Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

A Reforma Luterana – 29/31 de outubro de 2006
Série Trienal B – Romanos 3.19-28 – Lindolfo Pieper
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


HISTÓRIA DA REFORMA

Na nossa mensagem de hoje queremos falar sobre a Reforma, o grande acontecimento que despertou a atenção de todos no século 16. A Reforma é, depois do advento do Cristianismo, o maior acontecimento da história. Partindo da religião, a Reforma deu um poderoso impulso a todo movimento progressista e tornou o protestantismo a força propulsora na história da civilização.

1. Os precursores da Reforma

Durante a Idade Média, muitas pessoas se levantaram contra os erros da igreja. São os assim chamados precursores da reforma. Mas o mundo não estava preparado para recebê-los, de modo que foram reprimidos com violentas perseguições, sendo na maioria queimados no fogo como hereges.

Basicamente, esses movimentos se opunham contra a excessiva autoridade do papa, a supremacia da tradição sobre as Escrituras, a imoralidade do clero (celibato), a adoração das imagens, a doutrina do purgatório e a negação do cálice aos leigos.

O trabalho desses precursores serviu para pavimentar o caminho para a Reforma Protestante no século 16, cujo grande líder foi o doutor Martinho Lutero.

2. Causas da Reforma

Houve vários fatores que contribuíram para que a Reforma acontecesse, como políticos, econômicos, intelectuais e religiosos.

A igreja teve grande força política na Idade Média, mas no final desse período começou a perder o seu prestígio. O papado perdeu credibilidade com o cisma do Ocidente, com a transferência da sua sede para Avignon, na França, e a influência do monarca francês nas decisões da igreja.

Neste contexto surgiram personagens que atacaram a autoridade religiosa. Foram chamados de hereges e condenados à fogueira, como Savanarola, Wicliff e João Huss.

Nesse período a igreja sofria uma grande crise interna. Os papas se preocupavam mais com as questões administrativas do que com a fé. Eles eram acusados de nepotismo e corrupção, de empregar parentes e de tirar dinheiro do povo para financiar obras de artes e campanhas militares. Papas como Júlio II e Leão X tiveram uma excessiva preocupação com questões materiais, favorecendo assim a corrupção reinante entre muitos sacerdotes.

Os abusos cometidos por grande parte do clero foram outra causa da Reforma. As riquezas da igreja faziam com que homens, sem a verdadeira vocação religiosa, pensando apenas nos lucros, seguissem a carreira sacerdotal. Assim sendo, praticavam coisas censuráveis, como a venda de relíquias, o comércio de cargos, a simonia, a imoralidade e o abandono do celibato.

A invenção da imprensa pelo cientista alemão Johann Ganzfleisch von Gutenberg, em l455, favoreceu a difusão da Bíblia, um livro que havia desaparecido na época.

O movimento conhecido como Renascença despertou o interesse pela literatura clássica, pelos idiomas grego, latim e hebraico, levando o povo a investigar os verdadeiros fundamentos da fé, independente dos dogmas da igreja.

O espírito crítico dos humanistas fez com que muitos não aceitassem idéias religiosas que não tivessem uma base literal nas Escrituras Sagradas.

O Humanismo, um braço da Renascença, se espalhou rapidamente, formulando críticas à Igreja e exigindo reformas radicais. Este estado de espírito preparou o terreno para as teses de Martinho Lutero.

Porém a causa determinante que levou Lutero a reformar a igreja foi espiritual: o desvio da igreja dos ensinamentos das Escrituras Sagradas, especialmente no que dizia a respeito à salvação do homem. E o estopim foi a venda do perdão dos pecados, ou a assim chamada Questão das Indulgências.

3. Martinho Lutero

Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben, província da Saxônia, na Alemanha. Estudou em Mansfeld, Magdeburgo e mais tarde em Eisenach. Com 17 anos de idade ingressou na Universidade de Erfurt.

Durante os estudos em Erfurt, Lutero começou a ter conflitos de consciência, que constantemente o levavam a se perguntar: “Como conseguirei a misericórdia de Deus?” Regressando, certo dia, para casa, foi surpreendido por uma grande tempestade. Lutero refugiou-se na floresta. Subitamente um violento raio caiu perto dele, partindo uma árvore pelo meio. Apavorado, Lutero prometeu se tornar monge, caso Deus lhe poupasse a vida.

Lutero ingressou no mosteiro em 1505. Dois anos depois foi ordenado sacerdote. Em 1512 foi contratado para ser professor da universidade de Wittenberg, ocasião em que também recebeu o título de doutor em teologia.

Mesmo sendo professor universitário, Lutero continuou cuidando da sua paróquia em Wittenberg. À medida que ia estudando a Bíblia, o Espírito Santo foi lhe revelando o Evangelho.

Certo dia, ao meditar no Salmo 22, depois em Romanos 1 e 3, reconheceu que a graça é um presente de Deus. Jubiloso, exclamou: “Fiquei alegre. Abriu-se-me assim toda a Escritura Sagrada e o próprio céu”.

Notou então o quanto a igreja havia se afastado do Evangelho. A igreja do Castelo de Wittenberg, por exemplo, possuía 19 mil relíquias, colecionadas pelo eleitor Frederico o Sábio. Algumas delas eram supostamente pedaços de madeira da manjedoura de Jesus, espinhos da coroa da cruz de Cristo e uma pena da cauda do Espírito Santo. Ensinava-se que o culto prestado em tais igrejas reduzia as penas no purgatório.

4. Indulgências

O papa Leão X, amante das artes, queria terminar a construção da basílica de São Pedro. Para angariar fundos, intensificou a venda das indulgências.

O dominicano João Tetzel foi o que mais se destacou na venda de indulgências. Sua vinda a uma cidade era anunciada com uma grande pompa. Tetzel erguia um crucifixo na praça e pregava sobre os horrores do purgatório. Depois oferecia suas indulgências, dizendo: “Tão logo o dinheiro no cofre cair, a alma do purgatório irá sair”.

Vários clérigos criticaram a atitude do papa em cobrar dinheiro pelo perdão dos pecados. Entre estes estava Lutero, que divulgou 95 teses, atacando o comércio das indulgências, afixando-as na porta da igreja de Wittenberg no dia 31 de outubro de 1517. Muitos intelectuais e religiosos aderiram às proposições de Lutero. A nobreza e o povo também.

Em 1520 o papa expediu uma bula, ameaçando-o de excomunhão caso não se retratasse. Lutero queimou a bula papal em praça pública, proclamando ser a Sagrada Escritura a única autoridade em questões de fé e conduta cristã.

Em 1521 Lutero foi intimado pelo imperador Carlos V a comparecer à Dieta de Worms, a fim de se retratar. Lutero, porém, não se retratou, fazendo na ocasião uma memorável declaração diante do imperador: “A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Sagradas Escrituras e por se achar presa a minha consciência pela Palavra de Deus, não posso e nem quero me retratar de coisa alguma, porque não é seguro e nem aconselhável proceder contra a consciência. Aqui estou. Que Deus me ajude. Amém”.

Por causa dessa sua atitude, Lutero teve que se refugiar no Castelo de Wartburg, onde traduziu a Bíblia para o alemão moderno e escreveu vários outros livros.

Devido às questões políticas, o imperador deixou Lutero trabalhar em paz por algum tempo. Mas em 1529 Carlos V resolveu convocar a Dieta de Espira, onde foi decidido tolerar o luteranismo apenas onde ele já estivesse implantado e impedir a sua propagação para outros territórios. Os luteranos rebelaram-se contra essa decisão, passando a partir daí a serem chamados de protestantes.

Desejando restabelecer a unidade cristã em seus domínios, Carlos V convocou no ano de 1530 a Dieta de Augsburgo, solicitando aos luteranos que elaborassem por escrito a sua doutrina, a fim de se tentar uma reconciliação com os católicos. Como Lutero estava proscrito, encarregou Filipe Melanchthon a executar essa tarefa. Melanchthon redigiu um documento contendo 28 artigos, o qual foi chamado de Confissão de Augsburgo, que é ainda até hoje a confissão básica dos luteranos.

Não foi possível uma conciliação entre católicos e luteranos. Carlos V resolveu então sufocar a rebelião com a utilização das armas. A guerra civil entre católicos e protestantes se estendeu durante 20 anos.

Em 1555, porém, com a assinatura do documento Paz de Augsburgo, os protestantes obtiveram a liberdade religiosa.

A inquietação religiosa não se limitou à Alemanha. Em pouco tempo a Reforma se estendeu por toda a Europa. Quando Lutero morreu, em 1546, as suas idéias haviam sido completamente difundidas em todo mundo.

5. Bênçãos da Reforma

Os ensinamentos de Lutero se baseiam em três grandes princípios: a Bíblia é a única fonte da fé; a salvação se alcança apenas por meio da fé; somente pela graça de Deus é possível se chegar à fé.

Além disso, Lutero reduziu os sacramentos, em número de sete, para apenas dois: Batismo e Santa Ceia. Simplificou o culto, que passou a ser celebrado na língua local e não mais em latim.

Lutero decretou o fim da veneração aos santos. Em seu lugar propôs a meditação e a leitura da Bíblia. Acabou também com a ociosidade dos monges, transformando os mosteiros em escolas.

Com o fim da hierarquia eclesiástica, os sacerdotes se tornaram iguais aos demais fiéis, restando-lhes apenas o papel de guias espirituais.

Outras bênçãos da Reforma foram: a liberdade de pensamento, o livre exame das Escrituras e o reconhecimento do valor do indivíduo, do trabalho e da família.

6. Luteranismo

Muitos países aderiram ao movimento iniciado por Lutero, como a Alemanha, a Finlândia, a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, a Boêmia, a Morávia, a Inglaterra, a Escócia, a Holanda, a Suíça e, em parte, a França, a Áustria e a Hungria.

A Reforma provocou também uma reforma na Igreja Católica. O Concílio de Trento procurou pôr ordem na casa. Muitos admitem que, provocando a Contra-Reforma, Lutero tenha salvado a própria Igreja Católica.

Em virtude da Reforma, surgiu na Europa uma nova ordem social caracterizada pelo pluralismo confessional, respeito à consciência, ética, desenvolvimento social e progresso científico.

Lutero, ao reformar a igreja, não tinha a intenção de fundar uma nova igreja. Sua preocupação era unicamente chamar a atenção dos líderes religiosos para os erros doutrinários que eles vinham cometendo e reformar internamente a igreja. Queria uma igreja como tinha sido nos tempos bíblicos, voltada à Bíblia, fundamentada sobre Cristo, pregando o amor e perdoando ao próximo.

Mesmo não querendo dividir a igreja, isso acabou acontecendo. Os líderes religiosos da época, em vez de admitir os erros da igreja, julgaram que Lutero era um falso mestre e o excomungaram da igreja. Fora da própria igreja, Lutero só viu uma maneira de continuar com a Reforma: criar uma nova comunidade religiosa.

Hoje, a Igreja Luterana encontra-se espalhada pelos cinco continentes da terra. Espalhou-se pela Europa, caminhou para os Estados Unidos e mais tarde para outros países, chegando à América Latina e ao Brasil no final do século dezoito.

A principal característica da Igreja Luterana é a fidelidade à Bíblia e a pregação cristocêntrica. A Igreja Luterana confessa e ensina que a Bíblia Sagrada é a clara, pura e infalível palavra de Deus; e que Cristo é o único caminho para se chegar a Deus, que só mediante a fé em Cristo é possível alcançar o céu.

Sejamos gratos a Deus por pertencermos a Igreja Luterana e havermos herdade esse tão valioso legado, que são os ensinos do Reformador, doutor Martinho Lutero, baseados nestes três grandes princípios: a Bíblia é a única fonte da fé; a salvação se alcança apenas mediante a fé; só pela graça de Deus é possível se chegar à fé.

Lindolfo Pieper
Jaru – RO – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
piperlin@uol.com.br; pieperlin@bol.com.br
www.ielb.org.br

 

 


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