Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

7 º Domingo após Pentecostes – 23 de julho de 2006
2 Coríntios 12.7-10 – Lindolfo Pieper
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


FORÇA NA FRAQUEZA

2 Coríntios 12.7-10: “Mas, para que eu não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, foi-me dada uma doença dolorosa, como se fosse um espinho na carne. Ela veio como um mensageiro de Satanás para me esbofetear e evitar que eu ficasse orgulhoso.Três vezes orei ao Senhor e lhe pedi que tirasse isso de mim. Então ele me respondeu, dizendo: A minha graça é o suficiente para você, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco. Portanto, eu me sinto mais alegre ainda nas minhas fraquezas, para assim ter a proteção do poder de Cristo. Alegro-me com essas fraquezas, insultos, necessidades, perseguições e dificuldades por causa de Cristo. Porque, quando estou fraco, aí sim é que sou forte”.

Certo agricultor  lutava com muitas dificuldades e possuía um único cavalo para ajudar no trabalho de sua pequena propriedade. Um dia o seu cavalo caiu num velho poço abandonado. O buraco era muito fundo e seria difícil tirar o animal de lá.

O agricultor avaliou a situação e certificou-se de que o cavalo estava vivo. Mas pela dificuldade e o alto custo para retirá-lo do fundo do poço, concluiu que não valia a pena investir no resgate. Decidiu então sacrificar o animal soterrando-o ali mesmo. A sua intenção era jogar terra sobre o cavalo até que o encobrisse totalmente e o poço não oferecesse mais perigo aos outros animais.

No entanto, na medida em que a terra caía sobre seu dorso, o cavalo se sacudia e a derrubava no chão e ia pisando sobre ela. Logo ele percebeu que o animal não se deixava soterrar. Mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra caía sobre ele, até que, finalmente, conseguiu sair.

Na Bíblia encontramos muitos exemplos de pessoas que venceram grandes obstáculos, que souberam fazer das dificuldades um trampolim para a vitória, de extrair força da fraqueza. Um desses exemplos é José, filho do patriarca Jacó.

Dentre 12 irmãos ele era o filhinho querido do pai Jacó. Seus irmãos o odiavam por isso. Acabou sendo vendido pelos irmãos, que mentiram ao pai dizendo que havia sido comido por uma fera. Foi parar no Egito. Lá, mais uma vez, é injustiçado e acaba sendo preso, ficando trancafiado por muitos anos.

Diante de todas as injustiças, José nunca deixou de confiar em seu Deus. E Deus não o abandonou. Surge uma grande oportunidade de interpretar o sonho de Faraó: haveria sete anos de fartura e depois sete anos de grande seca. É libertado e torna-se o governador do Egito por causa da sua grande sabedoria que, sem dúvida, ele reconhecia como um presente de Deus.

Durante os anos de fartura, os egípcios enchem seus celeiros por conselho de José. Quando chegam os sete anos de seca somente os egípcios têm comida. Os irmãos de José, na distante Canaã, passam necessidade. Acabam indo ao Egito em busca do precioso alimento. É um reencontro marcado pela emoção. E José faz uma declaração que nos traz uma grande lição: "Foi para salvar a vida de vocês que Deus me enviou na frente de vocês. Deus me enviou na frente de vocês a fim de que ele, de um modo maravilhoso, salvasse a vida de vocês aqui neste país e garantisse que teriam descendentes. Não foram vocês que me mandaram para cá, foi Deus" (Gênesis 45.5,7,8).

Esta é uma das maiores declarações de fé e confiança em Deus que a Bíblia apresenta, de alguém que soube fazer das dificuldades um trampolim para a vitória, de tirar força da fraqueza.

Um outro exemplo de pessoa que enfrentou grandes dificuldades, que soube fazer dos obstáculos um trampolim para a vitória é Jesus.

Se nós formos olhar para a vida de Jesus, parece que tudo deu errado. Primeiro: ele nasceu numa estrebaria, num curral de gado.

Era de se esperar que Jesus nascesse num palácio. Afinal, ele era o Filho de Deus, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Foi por isso que os magos do oriente, quando vieram adorar o Menino Jesus, o procuraram no palácio do rei Herodes em Jerusalém. Mas lá não havia ninguém. O rei Herodes nem sabia do seu nascimento, nem tampouco o povo de Jerusalém.

Depois, no seu ministério, ele foi rejeitado e desprezado. Ele não foi bem aceito pelos homens. Diz o apóstolo João: “Ele veio para os seus, mas os seus não o receberam”.

Às vezes ele não tinha nem lugar para dormir, para descansar o corpo. Por isso, num certo lugar dos evangelhos, ele reclama, dizendo: “As raposas têm os seus covis, as aves dos céus ninhos, mas o Filho do homem não tem nem onde reclinar a sua cabeça”.

E, finalmente, no fim de sua vida, ele foi humilhado, desprezado e colocado numa cruz, como um criminoso, como um marginal, como um bandido. Parecia que ele estava sozinho, que até o próprio Deus o havia abandonado. Por isso, como que desesperado, ele clama no alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste!”.

Mas Deus não o havia desamparado. Tudo o que estava acontecendo com ele estava nos planos de Deus: desde o seu humilde nascimento, até a sua morte na cruz. Isso tudo havia sido predito pelos profetas. Esse era o plano de Deus para salvar o mundo.

O profeta Isaías, por exemplo, depois de descrever em minúcias o seu sofrimento e morte no capítulo 53 do seu livro, conclui dizendo: “Quando ele [Jesus] olhou para trás e viu o fruto do seu trabalho, ficou satisfeito”.

Também a história nos traz exemplos de pessoas que passaram por grandes obstáculos, mas que venceram, fazendo das dificuldades um trampolim para a vitória.

Um desses exemplos é Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho. Aleijadinho foi acometido por uma grave enfermidade, que o levou a perder as suas mãos. Mas, apesar disso, ele continuou com o seu trabalho de escultor. Ele pedia que os seus ajudantes amarrassem cinzéis e martelos naquilo que havia sido dedos e mãos. Então, o pequeno artista-escultor começava a criar mais uma obra-prima em madeira ou pedra.

Considerando a sua desvantagem em relação aos artistas sãos, ele deveria ter desistido ou jamais começado. Mas não. As suas obras permanecem como mudas testemunhas da sua habilidade. As suas obras tomam formas de apóstolos e santos, catedrais e altares, grupos e figuras nas Estações da Cruz. Mas a obra mais conhecida é Os Profetas, que se encontra no átrio da Basílica do Bom Jesus em Congonhas, MG.

Estas obras são monumentos de um gênio criativo, de um homem que venceu as flechas da adversidade. A sua profunda fé se vê nestas estátuas simples, porém poderosas, de homens de Deus que venceram a adversidade.

Temos ainda o exemplo de Milton, cego, caluniado e perseguido, que nos deu O Paraíso Perdido. Dante e Camões, que na miséria e no desterro, produziram as maravilhas da literatura, que são A Divina Comédia e Os Luzíadas. John Buyan, que no cárcere, escreveu O Peregrino. Paulo, que, arrastando consigo o espinho da carne, escreveu as suas treze cartas, que têm alimentado a esperança de multidões, especialmente a sua epístola aos Romanos, que é a obra prima do Novo Testamento.

A respeito do apóstolo Paulo, diz o texto bíblico: “Mas, para que eu não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, foi-me dada uma doença dolorosa, como se fosse um espinho na carne. Três vezes orei ao Senhor e lhe pedi que tirasse isso de mim. Então ele me respondeu, dizendo: A minha graça é o suficiente para você, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco”.

Poderíamos ainda citar a Helen Keller que, mesma cega, surda e muda, assombrou o mundo com os seus escritos, atividades e realizações. Mas julgamos que os exemplos citados são suficientes para mostrar que as adversidades, às vezes, servem para despertar numa pessoa algum dom latente e levá-la a superar as suas aparentes deficiências.

Quão grandes são as lições que nós podemos aprender com pessoas assim. Lições de bravura e determinação frente a extremas dificuldades. Pessoas com tais características nos são apresentadas pela Bíblia, que por meio da fé subjugaram reinos, praticaram a justiça obtiveram promessa, fecharam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada; da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exército inteiro.

Força tirada da fraqueza! Esta é a chave do sucesso dos exemplos citados acima. E é também a razão da vitória daqueles vultos sagrados, relatos pela Bíblia em Hebreus 11: a fé! Este também pode ser o segredo do nosso sucesso e de todos aqueles que têm alguma dificuldade na vida!

A fé em Cristo nos torna humildes, nos faz desesperar de nós mesmos e nos leva a confiar no poder e na graça de Deus. Quem confia no poder e na graça de Deus, se esvazia de todo o orgulho. E, mesmo em meio as maiores adversidades da vida, se apega a Deus e o glorifica, como fez o apóstolo Paulo: “Portanto, eu me sinto mais alegre ainda nas minhas fraquezas, para assim ter a proteção do poder de Cristo. Alegro-me com essas fraquezas, insultos, necessidades, perseguições e dificuldades por causa de Cristo. Porque, quando estou fraco, aí sim é que sou forte”.

Esta fé nos é dada no batismo, que é o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo; e fortalecida na Santa Ceia e na pregação do evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê em Cristo.

Que Deus nos abençoe, aumentando a nossa fé e nos tornando humildes, a fim de que aprendamos a extrair força da fraqueza, a fazer das dificuldades um trampolim para a vitória. E que um dia, lá no céu, possamos estar entre aqueles que venceram as tribulações da vida, que estão junto ao trono da glória por causa de Cristo, que com o seu sangue nos alvejou de todo o pecado.

Que Deus nos conceda esta graça. Em nome de Jesus. Amém.

Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
piperlin@uol.com.br
www.ielb.org.br


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