Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

4º Domingo Após Pentecostes – 02 de julho de 2006
Série Trienal B – Salmo 92.1-6 - Jonas Roberto Flor
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


“Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua misericórdia e, durante as noites, a tua fidelidade, com instrumentos de dez cordas, com saltério e com a solenidade da harpa. Pois me alegraste, Senhor, com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos. Quão grandes, Senhor, são as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos! O inepto nãocompreende, e o estulto não percebe isto” (Salmo 92.1-6).

ANUNCIEMOS A MISERICÓRDIA E A FIDELIDADE DE DEUS

Dois fatos recentes vieram levantar polémicas e dúvidas com respeito à veracidade do texto bíblico, à divindade de Jesus e, consequentemente, dúvidas com respeito aos fundamentos da fé cristã. Um fato foi a divulgação da cópia manuscrita do chamado Evangelho de Judas, texto gnóstico do século II d.C., que mostra um Judas diferente do relato bíblico, a quem Jesus até teria pedido para o trair. Outro fato foi a publicação do romance O Código Da Vinci e, nas últimas semanas, da sua versão no cinema. Dentre muitas polêmicas, o autor do romance, Dan Brown, relata ter sido Jesus casado com Maria Madalena e afirma que Jesus foi declarado Deus, da noite para o dia, por motivos políticos, negando por completo a sua divindade.

Deixemos a polémica de Judas de lado e nos concentremos no “caso” Jesus, que é bem mais urgente. Há pouco mais de um mês, celebramos a Ascensão de Jesus, ocasião em que Jesus deixou aos seus discípulos uma tarefa: “Sereis minhas testemunhas... até aos confins da terra” (Actos 1.8). No Domingo de Pentecostes, vimos como isto se tornou concreto quando os apóstolos, capacitados pelo Espírito Santo, falaram das grandezas de Deus nas mais diferentes línguas, tendo Pedro pregado um eloqüente sermão sobre o Cristo ressuscitado. No final de Maio, a Igreja Luterana Portuguesa celebrou seu aniversário, assim como a IELB (no Brasil) o fez há uma semana atrás. Por certo, todos fomos relembrados da razão da nossa existência em terras lusitanas ou brasileiras: Ser testemunha de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus. E, como nós, todos os cristãos são lembrados regularmente deste seu desafio: Ser testemunhas de Jesus.

Diante da polémica causado peloO Código Da Vinci, surge a questão: o que nós, cristãos, devemos responder? O que precisa ser testemunhado? Será necessário eu saber tudo sobre a Opus Dei, sobre o Priorado de Sião ou sobre o Santo Graal? Será necessário pesquisar tudo sobre a obra de Leonardo Da Vinci para saber das suas reais intenções ao pintar o quadro da Última Ceia? Ou ainda será necessário investigar se todas as datas que constam no romance são exactas?

Para isto, é preciso tempo, disponibilidade, capacidade intelectual e uma boa dose de boa vontade. Talvez, muitas tenham. E vão descobrir muitas falsidades. Vão descobrir, por exemplo, que o Concílio de Nicéia, de 325, não decretou a divindade de Jesus, porém, apenas registrou numa Confissão de Fé aquilo que os cristãos há muito tempo criam e confessavam.

Mas, e quem não tiver tempo para a pesquisa? Melhor ficar calado, então?

O Salmo 92 tem uma boa proposta. Creio que é a melhor. Diz o salmista que BOM é ANUNCIAR a misericórdia e a fidelidade de Deus. E em que consiste esta misericórdia e esta fidelidade? O salmista refere-se a “feitos” e “obras” do Senhor. Poderíamos aqui lembrar uma enorme lista dos grandes feitos de Deus em favor do seu povo, desde Abraão até o retorno do exílio. Mas o mais fundamental neste momento é lembrar que Deus, que criou tudo o que era necessário para o bem-estar do Ser humano, que sempre esteve ao lado do Povo de Israel, mesmo nos momentos de rebeldia, foi misericordioso e fiel, enviando ao mundo seu único Filho, verdadeiro Deus, para tornar-se verdadeiro Homem e ser o nosso Salvador. Quando confessamos a nossa fé nas palavras do 2º artigo do Credo Apostólico, estamos anunciando de viva voz a misericórdia e a fidelidade de Deus.

A proposta do salmo é que os cristãos, discípulos de Jesus, testemunhem o que viram e ouviram pela fé. Testemunhem a respeito daquele que morreu e ressuscitou. Testemunhem a respeito daquele que trouxe resposta às necessidades humanas.

Então é momento de perguntar: Qual o propósito da polémica do O Código Da Vinci? Ela vem alimentar ou atender a que necessidades? Às nossas?

Nossas necessidades não mudaram com a publicação do romance. Por natureza, estávamos afastados da comunhão com Deus. Continuamos pecadores. O pecado tem causado embaraços, angústias, opressões e morte. Nós necessitamos de cura. E a cura somente vem pelo perdão dos pecados, pela paz, pela alegria, pela esperança, pela salvação, pela vida eterna que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, nos concede.

Um Jesus meramente humano não é a solução. Mas, conforme diz o salmista, “o inepto não compreende, e o estulto não percebe isto” (v.6). O inepto, apesar de culto e inteligente, não compreende que era necessário que Jesus fosse Deus para cumprir a missão de Deus em nosso favor. A ressurreição prova que ele é verdadeiro Filho de Deus, que a sua vida e seus ensinamentos são credíveis, que o poder sobre a morte é a nossa vitória.

Um Jesus simplesmente humano do O Código Da Vinci não é resposta para as nossas necessidades. Somos chamados a testemunhar o Cristo ressuscitado. Somos convidados a anunciar a misericórdia e a fidelidade de Deus.

Numa das cenas do filme O Código Da Vinci, o personagem interpretado por Tom Hanks, depois de tantos acontecimentos misteriosos que levam às mais absurdas conclusões, diz mais ou menos o seguinte para a policial: “Acredite no que você quiser, no que estiver dentre de si”. Em outras palavras, não confie totalmente em ninguém, não deposite certeza absoluta em nada.

Meu amigo, a fé vem pela palavra de Cristo. Através dela, o Espírito Santo alimenta a nossa fé e encoraja-nos para o testemunho. Por isso, apeguemo-nos à Palavra e continuemos a ser testemunhas do Salvador. Há uma verdade absoluta a ser anunciada: A doença do pecado somente é curada com o perdão concedido pelo verdadeiro Filho de Deus, Jesus Cristo, o Salvador, que derramou o seu sangue na cruz e ressuscitou para a minha salvação.

É preciso estarmos conscientes de uma coisa: Quanto menos se falar em Jesus como o Salvador,

    • mais Dan Browns aparecerão para dizer: Acredite no que você quiser, tudo é relativo;
    • mais livros de auto-ajuda serão vendidos;
    • mais Paulo Coelho, com seu sincretismo e exoterismo, será lido no mundo inteiro;
    • mais pessoas estarão desesperadas, aflitas por um Pastor que não lhes é conhecido.

Que Deus nos abençoe em nosso testemunho. E que continuem sendo consoladoras e encorajadoras as palavras da oração de Jesus por nós: “Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós... para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.11,13,17). Amém.

Jonas Roberto Flor
Igreja Evangélica Luterana Portuguesa
Porto, Portugal
jonas.flor@clix.pt
www.igrejaluterana.web.pt


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