Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Segundo Domingo de Quaresma – 12 de Março de 2006
Série Trienal B – Marcos 8:27-38 – José Aragão
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


O Escândalo da Quaresma

Sobre o contexto litúrgico das leituras da Série Trienal B para o segundo domingo de Quaresma:

Nossa caminhada na quaresma continua na maneira como seguimos o nosso Deus que se dirige a sua cruz. Ele tem que sofrer muitas coisas e morrer, e no terceiro dia ser ressurgir do mundo dos mortos. As palavras de Davi no Salmo de hoje encontra o cumprimento delas no sofrimento de Jesus: “Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao teu nome; os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem” (Sl 142.6-7).

O Gradual conduz a nos focar sobre Jesus, como ele suportou a cruz e foi desprezado em sua vergonha (Hb 12.2). A Quaresma é um tempo que nós nos focamos sobre o arrependimento e na profundidade da agonia sofrida por Jesus. A realidade da Quaresma nos é trazida pelas palavras da Epístola: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

A coleta de hoje, inicia com palavras sobre a missão de Jesus: "O Deus cuja glória sempre é ter misericórdia”. A misericórdia de Cristo subjuga, como é de boa vontade e sem pecado ele é perfeitamente obediente, mesmo que isto custe a morte.

O Escândalo da Paixão de Jesus é Nossa Paixão para Servir e Seguí-lo.

Há dois anos atrás, o filme “A Paixão de Cristo” era uma parte comum em conversas. Muitos se perguntavam, você viu aquilo? O que pensou sobre isso? Críticos diziam que o filme era muito violento e muito dramático. As cenas de tortura e crucificação eram muito longas e sangrentas. Foi visto como impróprio para crianças e até mesmo para alguns adultos. Para outros, muito ofensivo, exagerado!

A Paixão de Cristo foi um choque inegável para a maioria daqueles que o viu. Ficaram chocados com a violência e brutalidade. O que Jesus fez por nós? O mundo ficou até mesmo chocado ao sugerir que esse preço fosse pago pela salvação da humanidade.

Há reações semelhantes para outros tipos de choque: "Não pode custar tanto!” “Deve haver um engano!” "Não tem como negociar um preço melhor”. È o que dizemos quando compramos um produto, que achamos caro. Mas se necessitamos, aceitamos que deve haver uma maneira de pagá-lo.” O homem tem uma idéia de quanto custa a sua salvação, mas nem sempre é o certo, por causa das “obras”. Assim, é necessário ver que Jesus o foi preço da salvação de Deus.

1. O Filho do Homem deve sofrer muitas cosias (v 31)

Jesus deve sofrer e morrer muitas coisas por causa do pecado da humanidade. Assim, são necessários o sofrimento, a cruz, morte e abandono. Ser rejeitado pelos anciãos, sacerdotes principais e mestres da lei (v 31), porque seu preço de Salvação choca-os.

A graça parece barata e até fácil para o homem natural. Pois, o preço da salvação, dizem eles, é muito elevado: guarde a lei com cuidado dizem eles. Ironicamente, o preço era realmente muito barato: seu próprio esforço sem valor tentando alcançar a santa exigência de Deus de forma perfeita.

Que ele morra, este não me serve, é muito escandaloso (v 31)! Entretanto, há a necessidade de morte: “pois o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Não há outro caminho para a salvação, é necessária a rejeição final do Pai e após três dias, ressurgir novamente (v 31).

Os discípulos parecem não ouvir e esquecem esta parte. Tudo que eles podiam ouvir naquele momento era o preço que Jesus dizia que pagaria, e então, Pedro sofre severo choque ao ouvir as palavras de Jesus.

2. “Nunca Senhor! Isto nunca acontecerá contigo” (Mt 16.22).

Suas palavras - pensamentos de homens - revelam a razão porque a cruz era necessária. Pedro não percebe que esse preço era necessário. Sua razão soa piedosa, mas trai sua convicção e certeza – que o pecado não era tão mal quanto tudo aquilo que Jesus se propunha.

O escândalo de Pedro é muito comum hoje. Nos sentimentos de superioridade moral e de auto-justificação. Assim muitos se chocaram com a paixão de Cristo, porque o mundo acredita que está tudo bem.

Também nós que semanalmente confessamos: “somos pobres e miseráveis pecadores”, que um auxiliador sem escândalo, limpo, que não se faz pecado, que é sorridente e sem sangue deveria ser o salvador que todos nós precisamos.

Veja a resposta de Jesus ao questionamento de Pedro: “Arreda-te Satanás! Pois não cogitas das coisas de Deus e sim das dos homens” (v 33). Pedro é um instrumento de Satanás ao tentar Jesus a seguir pensamentos humanos. “Pois os meus pensamentos não são os seus pensamentos, nem os teus caminhos os meus caminhos” (Is 55.8). Somente o próprio Deus pode se oferecer como seu perfeito plano de salvação. Jesus ainda quer nos comprar de volta.

3. O preço escandaloso foi necessário, mas ele pagou!

O sangue do Filho de Deus foi preço suficiente pago e creditado pelos pecados do mundo. Temos o perdão e a vida eterna através da paixão de Cristo. Valor ou soma alguma é esperado de nós.

Jesus diz, “Se alguém quiser vir após mim, deve negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz” (v 34). Essas palavras não expressam um preço que temos que pagar em favor de nossa salvação. Ele pagou todo o preço, e não a metade, para que continuássemos daí.

Muito pelo contrário, ele nos permite responder a sua graça com a vida santificada de abnegação e cruz e discipulado. Isso também se dá por graça. O custo de ser um discípulo não se constitui nenhum pagamento, mas uma conseqüência do amor para com Jesus e de Jesus, por graça, por fé no amor incondicional dele.

A boa compreensão do “negar a si mesmo, tomar a sua cruz, e seguí-lo”: a) “Ele morreu por todos, para os que vivem, não vivam mais para si mesmo, mas para aquele que morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15). Assim, somos capacitados a viver por ele, portanto, não podemos viver para si mesmos; b) “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.” (Gl 5.24); c) “No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22–24).

Você sabe qual foi toda a soma paga para que isso se tornasse realidade? Francamente, algo muito escandaloso, assim:

O Choque da Paixão de Jesus é Nossa Paixão para Servir e Seguí-lo.

Que milagre! Deus me deu a paixão de negar-se, tomar a minha cruz e seguí-lo. A sua Paixão cria e dá ocasião em nossa vida santificada. Nós não temos que viver mais para nós mesmos, apenas deseja viver para Jesus que morreu e ressuscitou por nós. O Evangelho nos cria novamente totalmente novos. Proclamamos isto diariamente em nosso Batismo e festejamos isso no corpo e sangue daquele que enfrentou o choque da condenação, de tal forma que nós podemos nos vestir com o novo, criados para estar como Deus, envolvidos na retidão de Cristo. O choque da Quaresma foi absorvido na Paixão de Jesus que agora nos permite a ter uma paixão para negar-se e o seguí-lo.

* Texto traduzido e adaptado de autoria do Rev. James E. Keurulainen, publicado no Concordia Pulpit Resources, Volume 16, 2006.


Rev. José Aragão
Brasília, DF, Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
www.ielb-guara.org.br


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