Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Quarta-Feira de Cinzas – 1º de março de 2006
2 Coríntios 5.21 – Heldo Bredow
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Cristo foi feito pecado por nós

“Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus”.

Julgamentos acontecem todos os dias em todo o mundo. Está em andamento o julgamento de Saddam Hussein. Não se sabe se um dia ou quando ele chegará ao fim, porque ele, quando não quer, não comparece ao tribunal. Acontece também que muitas vezes pessoas inocentes são colocadas atrás das grades, como foi o caso de um senhor, não me lembro mais onde foi, parece que foi Belo Horizonte, que na semana passada foi posto em liberdade depois de 8 anos preso injustamente, acusado por uma falsa denúncia de um traficante de drogas. Ficamos revoltados com tais decisões da justiça; as consideramos grandes injustiças.

Nesta semana que entra iniciamos mais um período assim chamado de Quaresma. Somos convidados a olhar, neste espaço de 7 semanas, um homem pálido e desfigurado, que no final morre numa cruz. Ninguém nele encontrou crime algum; ele é totalmente inocente, mas é condenado à morte por ter sido julgado réu.

Além daquele julgamento ao qual submeteram Jesus, havia sobre ele um outro julgamento, vindo de um tribunal invisível. É deste julgamento que trata o nosso texto: O JULGAMENTO OCULTO DE DEUS SOBRE JESUS.

Vamos rever o julgamento humano ao qual Jesus foi submetido. Ele é injusto, mau, diabólico. Os acusa-dores, e mesmo Pilatos, o governador, não conseguiram qualquer prova contra ele. As suas acusações são descabidas, sem qualquer fundamento, são falsas denúncias. E apesar de Jesus ser totalmente inocente, todos se unem contra ele. Os próprios discípulos o abandonam.

Quem, em última instância, condenou Jesus? Ele mesmo o revela: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Deus o abandonou. Deus mesmo o condenou! Quem nos dará a chave para este mistério?

Esta chave nos é dada por inspiração do Espírito Santo através do nosso texto. Portanto, ao lado do julga-mento dos homens, eu diria, acima deste julgamento humano, no Gólgota acontece outro julgamento. Deus Pai o condenou à morte.

Deus não sabia que seu Filho era inocente? Não sabia Deus que as acusações contra Jesus eram falsas? E Deus também não é um Deus justo? Como, então, combina, como é que se explica esta condenação de Deus, que foge de toda e qualquer compreensão racional?

A fim de entendermos tudo o que sucedeu com Jesus: seu amargo sofrimento e sua morte cruel, precisamos ir mais adiante e vermos de perto o julgamento oculto de Deus sobre seu Filho, fato que nós sabemos porque Deus o revelou em sua palavra, como estas palavras de Paulo.

Sobre o Gólgota não havia somente pessoas condenando a Cristo. Lá havia outros acusadores. Estes eram nada menos do que o santos 10 mandamentos. Estes mandamentos de Deus clamam por vingança diante de Deus, e assim clamam contra Cristo! Eles acusam Cristo e o condenam por inúmeros pecados, eles amontoam montanhas de graves acusações e exigem justiça.

Mas o que têm os 10 mandamentos a ver com isso, por que eles condenam Jesus Cristo? Ele nunca sequer transgrediu um deles, mas sempre os cumpriu integral-mente, de maneira tão perfeita que nem o olho de Deus achou qualquer falha em Jesus.

Ó, não é propriamente Cristo que os 10 mandamentos acusam e condenam. Jesus é apenas aquele que assume a posição dos verdadeiros culpados. Jesus é apenas o SUBSTITUTO que assume a culpa alheia. Nós, humanos, pecadores, somos os verdadeiros acusados pela santa lei de Deus, somos os que por meio de pensamentos, palavras e atos maus ofendemos a Deus e o provocamos em sua justiça. Contra nós os 10 mandamentos exigem vingança diante de Deus.

Se cada pecado que já foi cometido neste mundo tivesse apenas o tamanho de um cm quadrado, não haveria neste mundo lugar suficiente para amontoá-los. E foi por esta a grande montanha que Jesus foi condenado. Ele assumiu os nossos pecados! Bem que falou João Batista: “Aí está o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, Jo 1.29.

E qual é o propósito de Deus com tudo isso? Por que Deus castiga justamente o inocente, praticando, aos olhos humanos, a maior de todas as injustiças? Por que Deus não condena os verdadeiros culpados?

Amados, se Deus o fizesse ou quisesse fazer, não nos restaria outra coisa do que seguirmos o caminho rumo à eterna dor, junto com o diabo e seus anjos (Jd 6). Quisesse Deus nos tratar por aquilo que merecemos, ai, ai, ai! ! !

O pecado é uma coisa muito terrível! Infelizmente hoje até dentro da igreja cristã muita gente descaracteriza o pecado, dizendo que ele não é coisa tão feia assim. E aí se pinta e despinta, borda e transborda, se pratica pecado de toda a sorte, especialmente os da área da sensualidade e prostituição, sem querer saber se é ou não é revolta contra o santo Deus.

O motivo que levou o próprio Deus ofendido a agir assim em Cristo e com Cristo por nós foi o seu eterno amor. A sua misericórdia vai de eternidade a eternidade. Deus tomou a carga de pecados nossos e os colocou sobre os ombros de Cristo. Mas por que justamente Cristo? Porque só ELE os podia carregar, por eles sofrer e os expiar. Mais ainda: Jesus assumiu a nossa culpa porque só ele podia vencer o “salário do pecado”, que é a morte, que só ele tinha condições de não permanecer embaixo do castigo para sempre. Agora esta obra de Jesus e seus méritos são atribuídos a nós, os méritos de Cristo são creditados em nossa conta, e assim Deus nos justifica e liberta da culpa.

Em outras palavras, o perdão que Deus oferece é possível só por causa desta obra de Cristo. Por causa do sofrimento, morte e ressurreição, assuntos estes que vamos intensivamente recapitular na Quaresma, Deus está em paz com o mundo pecador. Aos que reconhecem sua vida pecaminosa e dela se arrependem, Deus olha para eles, para estas pessoas, como se elas mesmas tivessem sofrido o que Jesus sofreu por elas, e em nome e por amor a Cristo Deus perdoa os pecados.

É esta a mensagem do Evangelho. É esta a “loucura para os que se perdem, mas para nós os que cremos ela é o poder de Deus”, diria o mesmo apóstolo em 1 Co 1.18.

Mas é claro que isto não nos libera para vivermos em pecado, como tantas vezes cristãos também pensam quando estão com o pecado até por cimas das orelhas e não lutam contra as tentações e os vícios pecaminosos. Quem age assim está novamente crucificando Cristo, em outras palavras, está jogando a obra de Cristo no lixo.

Aprendamos novamente a olhar para o espetáculo do Gólgota com os olhos da fé sincera em Cristo. Olhemos para a profundidade da sabedoria de Deus com muita humildade e arrependimento, lamentando nossos pecados, mas certos de que a culpa de nossos pecados foi colocada sobre Cristo. Sintamos amor a Deus e ao mesmo tempo ódio ao pecado.

Injustiças, não estamos livres e isentos de as sofrer nesta vida. Ainda bem que Deus satisfez em Cristo a injustiça de nossos pecados, para que em Cristo sermos justos pela fé. Amém.

Heldo Bredow 
Curitiba, PR - Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
hebredow@yahoo.com.br


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