Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Quarto Domingo de Epifania - 29 de janeiro de 2006
Série Trienal B - Marcos 1.21-28, Marcos Schmidt

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Tema: Autorizados para abrir e fechar o céu. Um poder que se manifesta no amor.

Introdução ao Culto:

No primeiro culto neste período após Epifania, ouvimos a história do BATISMO de Jesus. Neste dia o céu se abriu e do alto Jesus foi “oficialmente” manifestado como o Salvador do mundo. Assim, o Filho de Deus deu início ao seu ministério aqui na terra.

No segundo culto após Epifania podemos destacar a promessa do Evangelho, de que não só entraremos neste céu que foi aberto, mas já podemos vê-lo aberto aqui na terra e viver crendo nisto. E isto acontece através da fé que temos nas promessas de Deus. É desta forma que podemos aceitar o chamado de Jesus - de sermos discípulos e testemunhas dele.

No culto passado, o terceiro após Epifania, vimos que quando Deus nos chama para este discipulado, não podemos e nem queremos fugir. A exemplo do profeta Jonas, engolido pelo peixe.

No culto de hoje queremos compreender um pouco mais sobre este chamado que Deus nos faz. Na verdade, assim acontece a Epifania, ou a revelação do amor de Deus. Através de nosso comprometimento.

Os textos bíblicos deste 4º Domingo após Epifania podem nos oferecer respostas para três perguntas: 1) Quem tem autoridade para ser testemunha de Jesus; 2) O quê e como testesmunhar; 3) E qual a reação das pessoas diante do nosso testemunho?

Introdução ao sermão:

Meses atrás o Brasil todo, que acompanhou a CPI dos Correios e do Mensalão, ficou admirado quando o ex-Deputado Roberto Jefferson falava. Ele discursava de uma forma que fazia as pessoas ficarem completamente atentas. Todos elogiavam a desenvoltura de Jefferson em seus discursos. E o reconhecimento foi unânime, de um homem que sabe se comunicar, que tem domínio da palavra e domínio sobre o público.

Mas faltava para este homem algo fundamental: ele não tinha autoridade para falar – atrás de seus discursos tinha muita mentira e corrupção.

O Evangelho de hoje também reconhece o domínio da comunicação de alguém que sabia falar muito bem. Lemos que “as pessoas que o escutavam ficaram muito admiradas com a sua maneira de ensinar. É que Jesus ensinava com a autoridade dele mesmo e não como os mestres da Lei” (Mc 1.22).

“Jesus ensinava com a autoridade dele mesmo”.

Isto não nos surpreende, afinal nós sabemos quem é Jesus. Se ele estivesse aqui falando pessoalmente, estaríamos como aquelas pessoas - admiradas, maravilhadas, de “boca aberta”.

No entanto, existe grande diferença entre ter desenvoltura para falar e ter autoridade para falar. Especialmente quando o assunto é a Palavra de Deus.

Nós sabemos muito bem da importância do dom e das técnicas da comunicação. Para isto não faltam livros e cursos que ajudam aqueles que trabalham no ramo da comunicação ou dependem dela. Mas não é a boa comunicação que dá garantias da autorização para pregar a Palavra de Deus. Um exemplo está em Moisés. Ele se expressava com dificuldade, era meio gago, mas recebeu de Deus a tarefa de falar com Faraó.

Muitos pastores e pregadores se comunicam muito bem e conseguem cativar multidões, mas não têm autoridade para pregar a Palavra de Deus. Isto porque são falsos pregadores, enganam usando o nome de Deus. O próprio ex-deputado Jéferson, falava bem, mas enganava e mentia em seus discursos.

No texto que ouvimos em Deuteronômio, percebemos a indignação do Senhor contra os falsos profetas que não receberam autorização para falar em nome Dele:

“Se um profeta tiver o atrevimento de dar uma mensagem em meu nome, quando eu não lhe tiver dito nada, ou se ele falar em nome de outros deuses, deverá ser morto” (Deuteronômio 18.20)

Diante disto, é importante ter a resposta desta pergunta: quem tem autoridade para falar em nome de Deus?

No caso de Jesus, ele tinha uma autoridade que vinha dele mesmo. Ele é o próprio Deus e quando esteve visivelmente em pessoa, falava por ele mesmo. É sobre Jesus que se refere o texto de Deuteronômio: “Do meio de vocês Deus escolherá para vocês um profeta que será parecido comigo, e vocês vão lhe obedecer” (Dt 18.15).

Profetas, apóstolos, sacerdotes, evangelistas, pastores... São vários nomes que a Bíblia confere àqueles que, em nome de Deus, falavam e pregavam com autoridade divina.

E hoje? Como isto funciona?

Lutero no Catecismo Menor responde esta pergunta ao definir esta autoridade de: - Ofício das Chaves.

Na pergunta “o que é o ofício das chaves”, Lutero escreve:
É o poder peculiar (único) que Cristo deu à sua igreja na terra, para perdoar os pecados aos pecadores penitentes (arrependidos) e retê-los aos impenitentes (não arrependidos) enquanto não se arrependerem.

Lutero se baseia no Evangelho de João, onde Jesus disse aos discípulos: “Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas se não perdoarem, eles não são perdoados.

E também conforme o que Jesus disse a Pedro em Mateus 16:“Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu”.

No entanto, hoje, de que maneira Deus escolhe profetas, discípulos? Na Bíblia vemos que Deus chamava de uma forma muito direta! Deus chamava através de visões, sonhos, ou mesmo conversando. No caso de Jesus, ele mesmo, em pessoa escolheu seus apóstolos!

Mas, e hoje? De que maneira o Marcos aqui (pastor que está pregando) tem certeza que foi escolhido para ser pastor, ou mesmo estar aqui em cima deste púlpito com autoridade para pregar este sermão?

Na verdade, quem tem autoridade para pregar a Palavra de Deus não é o pastor, mas é a igreja, são os cristãos. São todos aqueles que têm o céu aberto (Evangelho do 1º Dom após Epifania), aqueles que têm as chaves do reino de Deus.

Se eu estou aqui neste púlpito, é porque Deus entregou as chaves do céu para vocês. E conforme este poder que Deus lhes conferiu, vocês me chamaram em nome Dele para ser o pastor de vocês. É o ministério pastoral.

Esta doutrina do ministério pastoral é explicada no Catecismo Menor, neste artigo do Ofício das Chaves. Na pergunta o que crês segundo estas palavras, Lutero responde:

“creio que tudo quanto os ministros de Cristo, devidamente chamados, fazem conosco por sua ordem divina, é tão válido e certo no próprio céu, como se Cristo mesmo, nosso Senhor, tratasse pessoalmente conosco...”

É muito importante para todos nós, membros e pastores, entendermos isto. Deste privilégio e ao mesmo tempo desta responsabilidade. Afinal, podemos abrir o céu e fechar o céu. Podemos salvar alguém e podemos condenar alguém eternamente.

Na verdade, é um poder que temos contra Satanás e contra todo o seu poder. Ou como Jesus mesmo disse: nem as portas do inferno prevalecerão contra a igreja ( Mateus 16.18).

Assim, reconhecendo este privilégio e responsabilidade, a primeira coisa que queremos fazer é usar estas chaves. E usar com muito cuidado e dedicação.

Isto me faz lembrar um fato que aconteceu comigo dias atrás. A chave do meu carro foi esquecida dentro dele. O controle automático foi acionado e o carro ficou trancado com a chave no seu interior. Estava em outra cidade, não tinha a cópia, e a solução foi arrombar a porta do veículo.

Na igreja acontece algo semelhante. Temos uma chave com um controle automático de abrir e fechar o céu. É preciso ter um grande cuidado. Ou então ficaremos a pé, já que neste caso não existe outra chave e não tem como arrombar a porta do reino dos céus.

O que estou querendo dizer é o seguinte: a igreja (entenda-se aqui “igreja”) é como um carro que nos leva para o céu, um carro que já neste mundo nos conduz para muitas bênçãos celestiais. Mas se descuidarmos - por ignorância, omissão, despreocupação ou maldade, podemos ficar na estrada, tanto nós como aqueles que estão de carona (nossa família, nossos amigos, nossos vizinhos, nossos congregados...)

Em outras palavras, se não usarmos a nossa vida para o serviço de Deus, se nos omitirmos em nossos compromissos cristãos, então Deus, o dono da igreja, terá que transferir esta autoridade para outras pessoas.

Por isto, não basta apenas ter as chaves do reino dos céus. É preciso também saber usá-las!

Aí então vem a outra pergunta:
- O quê e como falar? O quê e como usar esta responsabilidade?

O quê falar está muito evidente. É preciso falar o que Jesus falou, aquilo que Deus mandou falar. E este ensino está na Bíblia, a Palavra de Deus.

No Evangelho do culto passado ouvimos que a primeira pregação de Jesus foi: “Arrependam-se dos seus pecados e creiam na mensagem de salvação” (Marcos 1.14) .

O ensino da Palavra de Deus, na verdade, deve estar fundamentado nestes dois pilares: arrependimento dos pecados e fé na mensagem de salvação. É a lei e o evangelho.

A nossa igreja luterana sempre teve uma preocupação muito grande no entendimento e no ensino correto da lei e do evangelho. Afinal, sem esta compreensão, não existe “chave do céu”. Sem a correta compreensão de lei e evangelho, na hora de abrir o céu, a chave pode fechar indevidamente, e na hora de fechar o céu, a chave pode abrir indevidamente.

Vou dar um exemplo:
Se um cristão estiver vivendo em pecado, e não reconhece seu erro, e ele ouvir de nós que “todos pecam e Jesus é o Salvador dele”, aqui o evangelho está sendo pregado de maneira inadequada. Ele precisa antes saber que o pecado afasta de Deus e condena...

Já se um cristão estiver arrependido de seu pecado e ele ouvir de nós que “deve agora fazer alguma coisa para compensar este pecado, participar mais da igreja, fazer isto e aquilo”, é a lei sendo pregada de forma errada.

Como é importante ter a chave certa para cada ocasião, no momento próprio quando é preciso fechar e no momento próprio quando é preciso abrir - a lei e o evangelho.

Sim, é preciso ter esta sabedoria. Mas que não vem da inteligência humana. Ou como disse Jesus para Pedro, “você é feliz porque esta verdade não foi revela a você por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai, que está no céu” ( Mateus 16.17).

Ou como também explicou Lutero no Catecismo Menor: Creio que por minha própria razão ou força não posso compreender isto, mas o Espírito Santo me chamou, me iluminou...

No entanto, não basta apenas saber pregar lei e evangelho – ter esta sabedoria. É preciso também saber “viver” lei e evangelho. E o segredo disto está numa outra chave: a chave do amor.

É disto que está falando o apóstolo Paulo, na Epístola de hoje (1 Coríntios 8). Ele usa o exemplo do comportamento cristão no uso da comida. Hoje poderíamos comparar o que Paulo escreve neste capítulo, com aquilo que acontece com certos cristãos, que pensam que comer isto ou aquilo é pecado.

Estas pessoas não têm o devido conhecimento de lei e evangelho. São “fracos na fé”, conforme diz Paulo.

E para que estes fracos na fé não percam de fez esta chama que fumega, o apóstolo tem aqui uma palavra para os “fortes no conhecimento” - que podem estar fracos no amor. Ele lembra: “a pessoa que pensa que sabe alguma coisa ainda não tem a sabedoria que precisa”. (v.2)

Ele diz que: “esse tipo de conhecimento enche a pessoa de orgulho, mas o amor nos faz progredir na fé”. (v. 1)

E a recomendação do apóstolo então é:
“Tenham cuidado para que essa liberdade de vocês não faça de vocês com que os fracos na fé caiam em pecado” (v.9)

Aí está uma coisa que precisamos nos dar conta: Se somos um igreja que tem motivos para se orgulhar na doutrina e na clara distinção entre lei e evangelho, parece que não temos muitos motivos para nos orgulhar muito no procedimento do amor. Isto porque a nossa liberdade tantas vezes agride, se omite, cruza os braços e se ausenta diante das dificuldades do próximo e da miséria e da fraqueza alheia.

Aqui, portanto, está uma coisa que precisamos dar mais atenção: a chave que abre o céu é o amor. Não é só o conhecimento bíblico e a doutrina. Mas o amor. O amor que vem da fé em Jesus Cristo, que vem do arrependimento e do perdão. O amor que aparece na forma como tratamos o semelhante, da maneira como nos relacionamos...

Assim respondemos esta pergunta:
- Como falar, como testemunhar?

Falamos com a autoridade do amor!

Não foi por nada que Paulo escreveu aqui, nesta 1ª carta ao coríntios, um capítulo todo dedicado ao amor, o capítulo 13. “Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e no céu,” diz o apóstolo, “mas se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino”.

E é somente desta forma, pela linguagem do amor, que as pessoas vão ficar admiradas com a nossa maneira de fala. As técnicas de comunicação ajudam bastante. Mas logo logo as pessoas descobrem se temos ou não autoridade, isto é, o amor do Senhor Jesus.

A nossa vida cristã é assim. Com o tempo as pessoas percebem o que pe verdadeiro e o que é simulação.

Foi isto que fez Roberto Jefferson perder sua autoridade.
Foi esta a diferença entre Jesus e os Mestres da Lei.

E devemos estar preparados para dois tipos de reação quando seguirmos o caminho verdadeiro do amor. No texto do Evangelho, no momento quando Jesus usou sua autoridade e pregou o amor, percebemos estes dois tipos de reação:

  • a reação do espírito imundo - um demônio que
    se revolta,
  • e a reação das pessoas que ficaram admiradas e
    creram.

Dois tipos de comportamento que traduzem muito bem o que a Palavra de Deus produz na vida das pessoas – admiração e rejeição, fé e descrença. E o cristão que testemunha, que usa a sua chave, precisa estar preparado para isto.

E acima de tudo, precisa saber que não é a palavra dele que está sendo aceita ou rejeitada, mas é a palavra de Deus. O cristão não passa de um entregador de recados, um mensageiro, um carteiro... Mas um importante instrumento nas mãos de Deus.

Caros irmãos e irmãs, mesmo quando o mundo não reconhece a autoridade que temos – um poder que vem de Deus, esta é a nossa tarefa: abrir e fechar o céu.

Aqui está a Palavra de Deus (mostrar a Bíblia) e aqui está a chave (mostrar uma chave). E aqui está o amor (apontar para o coração).

Na verdade, isto é Epifania...

Amém!

Pastor Marcos Schmidt
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Congregação São Paulo
Novo Hamburgo, RS
marsch@terra.com.br

 


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