Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

20º Domingo Após Pentecostes – 02 de Outubro de 2005
Série Trienal A – Filipenses 3.12-21 - Jonas Roberto Flor
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


“Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3.13,14,20).

Introdução

Vivemos num mundo cada mais frágil na manutenção valores. Cada um vive a sua verdade, e este individualismo tem promovido maneiras de pensar e comportamentos que manifestam o que há de mais abjecto no ser humano. Em contrapartida, ressurge, entre os cristãos, a busca desenfreada por normas para conter a devassa que o furacão mundano está operando no coração do ser humano. E quando a tentativa de cumprimento da Lei passa a ser o objetivo, surge a ilusão da perfeição. Quando buscamos a correta medida em nós, e não em Cristo, a hipocrisia toma conta e tudo o que Cristo realizou por nós torna-se secundário.

Paulo tem em mente todas estas coisas quando escreve aos filipenses. Deus tem isso em mente quando hoje fala a você através das palavras do capítulo 3 da carta aos Filipenses. Então, o que nos é dito? Como fugir do furacão do mundo moderno? Ao mesmo tempo, como não viver na tentação ou ilusão de estar acima dos comuns mortais em termos morais e espirituais, considerando-se perfeito aos olhos de Deus? Aqui temos algumas direções:

I – Esquecer o passado

Esquecer o nosso passado? Como? Não tem sido ele preenchido por uma longa lista de realizações, de benfeitorias, de atitudes altruístas? Não tem sido o nosso passado um verdadeiro passaporte para a eternidade?

Paulo também pensava assim. Durante muito tempo, ele considerou-se um exemplo de perfeição em matéria de vida cristã. Em matéria de obediência dos mandamentos, ninguém o podia acusar. Ele depositava inteira confiança nas cerimônias externas que cumpria religiosamente.

Paulo pensava assim até o momento em que conheceu a Jesus Cristo. Conheceu aquele que cumpriu toda a lei no seu lugar, que derramou o próprio sangue na cruz no lugar daquele que já se julgava perfeito, mas que, na verdade, era o maior dos imperfeitos.

Agora era preciso esquecer o passado. O passado o envergonhava. Paulo quer esquecer a sua justiça própria. Quer esquecer tudo aquilo que não tinha valor eterno. Quer esquecer as perseguições que empreendeu sobre os cristãos por causa de uma suposta perfeição que julgava ter. Paulo considera tudo lixo por amor a Jesus.

É verdade que há muitas boas lembranças a serem guardadas do nosso passado. Elas fazem parte da história de nossas vidas. Mas há outras coisas que precisam ser destruídas. Somos chamados a fazer uma faxina diária do nosso interior, com seus ódios, invejas, ciúmes, calúnias, mentiras, negligências e uma tentativa teimosa de obter justiça própria. É necessário também esquecer todas as ofensas, injustiças e difamações que sofremos.

Por causa de Jesus Cristo, que tanto nos amou, passamos a viver uma nova vida. Como Paulo, podemos dizer: “Considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (v.8,9).

II – Avançar para o que está à frente

Mas não podemos ficar por aí. Não podemos parar. Parar significa retroceder. É preciso avançar. E avançar implica em superar obstáculos, porque o presente não é de perfeição. A salvação está completa, mas o pecado ainda habita em nós. A fé é imperfeita.

Martinho Lutero já lembrava que somos, ao mesmo tempo, justos e pecadores. Por isso Paulo incita aos adultos na fé para que tenham o mesmo sentimento, isto, o de luta, para prosseguir e chegar a uma altura ainda não atingida. Esta luta é descrita em outras cartas de Paulo. É a luta do novo homem contra o velho homem. Na primeira carta aos Coríntios, Paulo afirma: “Esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão” ( 1 Coríntios 9.27).

No Catecismo Menor, Lutero, discorrendo sobre o significado do batismo em nossas vidas, diz que “o velho em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente.”

Com o poder do Espírito Santo, alicerçados e fortalecidos na Palavra de Deus e no Sacramento da Santa Ceia, podemos ser vitoriosos nesta luta diária e avançar para o que está à nossa frente.

III - Prosseguir para o alvo

O mundo está sem rumo. O que vale é o aqui e o agora. Falta o alvo que também faltava aos dois filhos na areia da praia. Sempre gostaram de lá jogar bola. Mas, quando ainda pequenos, ao tentarem fazer a marcação do retângulo na areia, as linhas saiam sem direção. O pai, então, ensinou-lhes a por chinelos nos quatro cantos do retângulo. Assim aprenderam a fazer a linha de marcação do campo olhando para o chinelo à frente e não para os próprios pés.

A palavra de Deus nos incita a prosseguirmos para o alvo. Qual é este alvo? Paulo fala do “Prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (v.12). Antes, no versículo 11, ele diz: “Para, de algum modo, alcançar a ressurreição dos mortos.” E, no versículo 20, Paulo aponta para o alvo final: “A nossa pátria está nos céus.” Na mesma carta, em 1.23, Paulo já dizia: “Estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.” Também lemos em Hebreus 12.1,2: “Corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus.”

Aquele que é o ponto de partida, e que nos dá razão para esquecermos o passado e para avançarmos para o que está diante de nós, é também o ponto de chegada, o alvo que tanto almejamos alcançar: a comunhão plena e eterna com Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Paulo, ao falar da pátria celeste, toca na questão da cidadania. E esta não é uma idéia passiva, mas implica em ação e responsabilidade. Um bom cidadão se empenha a favor da sua Pátria. Ele se orgulha dela, defende-a, morre por ela. O cristão não vive mais para si mesmo, mas para aquele que por ele morreu e ressuscitou. Ele não confia nos seus méritos e realizações, mas agarra-se à graça de Jesus para avançar e prosseguir para o alvo. Amém.

Jonas Roberto Flor
Igreja Evangélica Luterana Portuguesa
Porto, Portugal
jonas.flor@clix.pt
www.igrejaluterana.web.pt


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