Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

6 º Domingo após Pentecostes, 26.06.2005
Série Trienal A – Texto base: Jr 28.5-9 – Marcos Schmidt

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Tema: Comprometidos até o pescoço com a verdade ...

Conhecemos o ditado: a voz do povo é a voz de Deus.

Mas isto não é verdade.

A história do profeta Jeremias é uma prova disto. Ele foi a voz de Deus, mas foi duramente perseguido pelo povo por dizer a verdade.

O povo de Israel há muito tempo não estava mais interessado na verdade, especialmente no que dizia respeito aos seus pecados. Jeremias foi um pedra no sapato desta gente porque falou aquilo que não queriam ouvir, sobre seus pecados. Precisou dizer que, se não se arrependessem, Deus os castigaria.

E o castigo de Deus veio. O rei da Babilônia com seu poderoso exército invadiu Jerusalém, destruiu a cidade e o templo, e parte do povo, todas as riquezas e o tesouro do templo foram levados para a Babilônia.

Jeremias no meio desta desgraça, ainda teve que dizer ao povo de Israel que eles deveriam se submeter a este castigo e se arrepender. Disse que os inimigos de Israel eram instrumentos de Deus, e deveriam obedecer às ordens do rei da Babilônia, pois assim estariam obedecendo a Deus.

Conforme lemos em Jeremias 27.8, qualquer outro povo que não obedecesse ao rei da Babilônia, seria castigado por Deus com a espada, a fome e a peste.

No capítulo 27 lemos que Deus mandou inclusive Jeremias usar uma canga de madeira em seu pescoço, assim como é colocado nos bois. Isto para simbolizar que agora todo o povo de Israel deveria se sujeitar ao domínio dos inimigos, assim como um boi se sujeita ao seu dono.

Era um recado duro que Jeremias estava entregando. Mas vinha da parte de Deus, e ele, na função de profeta, era apenas o mensageiro deste recado.

No meio de tudo isto, apareceram outros profetas dizendo que Jeremias era um mentiroso e traidor. No capítulo 28 temos a referência de um deles, Hananias. Ele começou a pregar que, conforme a vontade de Deus, estava chegando o fim dos tempos difíceis, e que dentro de dois anos, o rei de Israel, o povo e os tesouros de templo seriam trazidos de volta a Jerusalém.

E para conseguir simpatia do povo, Hananias arrancou a canga do pescoço de Jeremias, desqualificando o profeta diante de todo o povo. E o povo vibrou com esta cena.

Foi no meio de tudo isto que Jeremias, com toda a coragem que Deus lhe tinha dado, diz as palavras (conforme capítulo 18.5-9): “Então, veio a mim a Palavra do Senhor: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? – diz o Senhor; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, casa de Israel. No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se a tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe”.

Por mais que amasse o povo, Jeremias estava comprometido com a verdade. Sendo um profeta de Deus, precisava dizer o que Deus lhe havia ordenado, bem diferente de Hananias e outros, que falavam o que o povo queria ouvir.

Como podemos ver, a voz do povo não era a voz de Deus. Essa história aconteceu há 2.600 anos. Mas é bem atual, porque as pessoas continuam preferindo ouvir as falsas promessas em lugar das verdadeiras. Isto porque as falsas promessas vêm sempre ao gosto popular, recheadas com aquilo que vai ao encontro da natureza humana. As falsas promessas vêm sempre acompanhadas com vantagens, com facilidades, com alegrias e prazeres terrenos.

O alerta já diz: quando as vantagens são muito grandes, abre o olho. Mas parece que nunca aprendemos. Os vigaristas sabem disto. Usam nossa cobiça, nossos sonhos, e nos iludem com propagandas enganosos. É por isto que as agências lotéricas estão sempre lotadas, especialmente quando o prêmio está acumulado. É por isto que as igrejas que prometem curas, prosperidade, vida sem problemas, estão sempre abarrotadas de sonhadores e arrecadando muito dinheiro. É por isto que muitos políticos conseguem votos, prometendo o que nunca vão cumprir. O povo acredita porque tem sonhos e desejos. Mas a maioria destes sonhos e desejos não são aquilo que Deus “sonha” e deseja.

Na verdade, a voz do povo não é a voz de Deus.

E a nossa voz? É a voz de Deus?

Os nossos sonhos e desejos? São os sonhos e desejos de Deus?

Até onde estamos comprometidos com a verdade?

Pois a história de Jeremias tem um recado muito sério para todos nós. E a primeira questão que precisamos analisar é esta: onde nós entramos nesta história? Somos o Jeremias ou somos o povo?

Estamos comprometidos com a verdade que Jeremias anunciou ou estamos ao gosto das promessas populares, promessas que aparentemente fazem bem aos ouvidos e ao coração?

Se estamos ao lado de Jeremias, então é bom lembrar: as vaias e a oposição serão a coisa mais certa. Lembram? A voz de Deus não é a voz do povo!

Por isto, se um cristão não sofre oposição, não tem dificuldades em ser cristão, vive tranqüilo em sua vidinha tanto em casa, como na igreja, no trabalho, e no lazer, então é preciso pegar o infalível medidor da verdade, a Palavra de Deus, e fazer um teste. Aqui no nosso país existe o INMETRO, um órgão do governo que fiscaliza os produtos lançados no mercado. Pois é, o INMETRO da Palavra de Deus pode nos ajudar a descobrir até onde nossa vida, nossas palavras, nossas ações, tudo enfim, é verdadeiro ou falso, é produto que tem o selo de garantia ou está desqualificado para o consumo.

O apóstolo Paulo, conforme a epístola deste culto, responde sobre quem são aqueles que têm o selo de garantia de qualidade. Ele escreve: “Assim também vocês devem considerar-se como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, por estarem unidos com Cristo Jesus” (Rm 6.11). A vida em união com Jesus qualifica alguém na verdade. Uma vida que começou no batismo, como é dito no versículo 3: “fomos batizados para ficarmos unidos a Jesus”.

A recomendação do apóstolo, por causa desta nova vida, é bem simples (Rm 6.12): “ que o pecado não domine os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos desejos da natureza humana”.

Obedecer aos desejos na natureza humana é o caminho mais fácil neste mundo onde a voz do povo não é a voz de Deus.

No Evangelho de hoje vemos que Jesus alertou contra este caminho fácil e foi muito franco ao dizer: “Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt 10.34).

A “espada” que Jesus veio trazer representa a luta, a guerra contra os desejos da natureza humana (que estão no nosso coração), o mundo (que é a voz do povo), e o próprio diabo, o inimigo da verdade, o pai da mentira.

A espada é a própria Palavra de Deus, uma das armas do cristão, conforme diz Paulo: “recebam ... a palavra de Deus como a espada que o Espírito Santo dá a vocês” (Ef 6.17).

Esta espada foi usada por Jeremias, e por isto foi perseguido. Mas venceu a luta porque tinha uma arma poderosa.

Esta espada, quando usada por nós cristãos, traz conseqüentemente aquilo que Jesus diz: filhos contra os pais, filhas contra as mães, noras contra sogras ... Os piores inimigos serão os próprios parentes, diz Jesus.

E por que isto? Porque quando um filho recebe a educação de seu pai na Palavra de Deus, mas não aceita, rejeita, se torna um inimigo de Deus e assim também um inimigo do próprio pai. Assim acontece também com amigos, vizinhos, colegas...

Esta inimizade aqui não quer dizer brigas e ódio. Mas se refere a uma inimizade espiritual, a um afastamento de Deus, que leva para o inferno. E esta é a pior inimizade que existe. Porque se uma mãe é cristã, e a filha é descrente, a mãe vai para o céu, e a filha para o inferno. Portanto, é uma inimizade que separa para todo o sempre e assim é a pior de todas. Por isto disse Jesus: seus parentes serão seus piores inimigos.

Sim, a voz do povo não é a voz de Deus. O salmista também sabia disto ao confessar: “Tenho muitos inimigos e perseguidores, porém não deixo de obedecer aos teus mandamentos” (Sl 119.157). Por isto ele ora: “Ó Deus ... defende a minha causa e livra-me” (Sl 119.153, 154).

Se estamos comprometidos até o pescoço com a verdade, assim como Jeremias, podemos nos preparar para as vaias do povo.

Mas quem disse que vale a pena o aplauso do mundo? Pois neste mundo é assim: aqueles que hoje recebem aplausos amanhã serão vaiados. Afinal, tudo neste mundo passa. As glórias terrenas, os elogios das pessoas, as honras do mundo são vaidade e sem valor.

Mas, ao contrário disto, diz o salmista: “a tua palavra é toda ela verdadeira, os teus mandamentos são justos e duram para sempre” (Sl 119.160).

Por isto, o melhor mesmo é seguir a recomendação de Jesus no Evangelho: “quem recebe um mensageiro, porque é mensageiro de Deus tomará parte na recompensa dele” (Mt 10.41).

Portanto, não nos enganemos com a voz do povo. Confiemos, sim, na voz de Deus e sejamos mensageiros dele, comprometidos até o pescoço com a verdade.

Amém.

Pastor Marcos Schmidt
Novo Hamburgo – RS – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
marsch@terra.com.br
www.ielb.org.br

 


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