Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Domingo de Pentecoste – 15 de maio de 2005
Série Trienal A – Atos 2.1-18 – Gilberto da Silva

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Ao cumprir-se o dia die Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, atônitos, e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna, partos, medos e elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia; da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios; como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados! Então se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão .“ (Atos 2.1-18)

Introdução

Se um internauta clicar, por acaso, este site, ele irá perguntar: o que será que está escrito nestas linhas? Sem dúvida, esta é uma pergunta semelhante àquela que os ouvintes dos primeiros cristãos em Jerusalém fizeram, segundo o relato do nosso texto. Aqueles que entendem o português, entretanto, sabem que se trata de um sermão para o dia de Pentecoste. Isso não é lá grande coisa, mas o fato de que a Palavra de Deus, hoje em dia, pode ser divulgada em diversas línguas, é conseqüência do milagre do dia de Pentecoste. Proclamar a Palavra de Deus através de todos os meios que estejam à disposição também é conseqüência do dia de Pentecoste.

Tradicionalmente, Pentecoste é a festa da Igreja cristã. Este texto dos Atos dos Apóstolos é, tradicionalmente, encarado como o relato da fundação da Igreja. Isso significa, que a Igreja existe a partir dos acontecimentos aqui descritos. Por isso, vale à pena estudar os detalhes dessa história.

I

Em primeiro lugar, o texto nos diz que a Igreja cristã é uma instituição humana. Nós lemos no início do relato: “Ao cumprir-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar.” Quem eram esses “todos”? A resposta está no primeiro capítulo: os onze discípulos, com as mulheres, estando entre elas Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele (At 1.13-14). Eles estavam reunidos em constante oração. Isso significa, que eles celebravam o culto na casa onde estavam reunidos. Com certeza, esse culto era bem diferente daqueles que nós celebramos hoje, mas é bem provável, que eles oravam em conjunto e que havia uma espécie de sermão.

Em um desses cultos aconteceu até mesmo a eleição de um novo apóstolo, o qual deveria ocupar o lugar de Judas. O nome dele é Matias. Hoje em dia, nós iríamos dizer que eles tiveram depois do culto uma “assembléia da congregação”, com eleição de um novo membro da diretoria.

Mas, pensando bem, por que eles estavam reunidos numa casa e não no templo, que seria o lugar mais adequado para a celebração de cultos? A resposta é simples: eles estavam com medo. Um sentimento muito humano, que nós podemos entender. Eles estavam com medo daqueles que julgaram e mataram Jesus. Seria perigoso aparecer em público, com isso eles estariam colocando em risco a própria vida.

Um outro sentimento humano que eles tinham era a falta de orientação. Jesus havia ressuscitado e dado uma série de indicações, mas depois ele voltara para os céus e, aparentemente, os deixara na mão. Provavelmente, eles diziam entre si: “O que nós vamos fazer? Um grupinho de pessoas nessa cidade tão grande... Nós vamos ficar aqui escondidos, protegidos nesta casa. Nós continuaremos fazendo aquilo que sempre fizemos. Aqui nós estamos seguros.” Todos esses pensamentos são humanos. Nós os compreendemos muito bem.

II

Mas, de repente, no dia de Pentecoste, provavelmente enquanto eles estavam celebrando o culto, aconteceu algo extraordinário. Vento e fogo, forças incontroláveis da natureza, eram indícios de que o Espírito de Deus, o Espírito Santo estava em ação. Deus tomou a iniciativa e enviou o seu Espírito àquela casa, onde os primeiros cristãos estavam escondidos. E o milagre aconteceu: o Espírito Santo deu àquelas pessoas temerosas e, de certo modo, acomodadas, uma nova dimensão, uma dimensão divina!

Essa dimensão divina colocou tudo em movimento: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” Aquele grupo de pessoas, daquele momento em diante atingidas pelo Espírito Santo, não podia mais ficar preso àquela casa, preso aos seus costumes, preso aos seus medos. Eles tinham que ir para fora. Eles tinham que falar àquela multidão que, por causa do vento e das línguas de fogo, havia se juntado em volta da casa. E mais do que isso: cada um podia ouvir a mensagem na sua própria língua!

Mas, o que eles ouviam? Eles ouviam “as grandezas de Deus”. Eles ouviam tudo o que o Criador e Redentor do mundo fez por eles. Um exemplo disso é a fala de Pedro, que inicia em nosso texto, mas vai mais adiante, e termina com as palavras: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36).

Sim, exatamente, este é o centro da mensagem. A dimensão divina chega até as pessoas, coloca-as em movimento, a fim de que a mensagem “Jesus Cristo é o Senhor” seja proclamada. O Filho de Deus, que por nós viveu, morreu e ressuscitou, não pode ficar preso entre as paredes de uma casa, seja por medo ou por comodidade. Ele tem que sair, tem que ser proclamado.

Deste modo, nós vemos que a saída histórica dos discípulos e discípulas do Senhor, daquela casa escondida para o mundo, tem um sentido profundo. A instituição que foi fundada por meio deste evento, a Igreja, tem uma dimensão humana, porque ela é formada por homens e mulheres com todas as suas fraquezas; e uma dimensão divina, que lhe é dada pelo Espírito Santo. E, junto com a dimensão divina, a Igreja também recebe uma tarefa.

III

Nós, como cristãos, também pertencemos a esta instituição chamada Igreja. Neste sentido, nós somos herdeiros e herdeiras daquele primeiro grupo de cristãos, que no dia de Pentecoste foi forçado a deixar o seu esconderijo e recebeu de Deus uma tarefa.

É claro que nós também temos uma dimensão humana. Nós somos homens, mulheres, crianças, cada um com as suas alegrias, seus problemas, suas fraquezas. Cada um de nós tem um passado, um presente, um futuro. Cada um de nós tem uma idéia diferente daquilo que seja a vida, a política, o comércio, a Igreja, etc. Mas uma coisa nós temos em comum: como cristãos nós todos fomos batizados e somos membros da Igreja cristã. A pergunta é: o que faz a diferença entre a Igreja e o clube de regatas ou a associação de bairro?

A dimensão divina é que faz a diferença! O Espírito Santo não vem até nós através do vento e de línguas de fogo, como da primeira vez em Jerusalém, mas sim através da Palavra de Deus e dos sacramentos, que nós recebemos na Igreja. Neste sentido, nós não estamos em desvantagem com relação àqueles primeiros cristãos.

E o que nos faz semelhantes a eles é também a tarefa que recebemos junto com a dimensão divina. Em Jesus Cristo, Deus mostrou ao mundo que ele quer salvá-lo. “Como, porém, invocarão aquele em que não creram? e como crerão naquele de quem nada ouviram? e com ouvirão, se não há quem pregue?” (Rom 10.14) é a pergunta penetrante do apóstolo Paulo. O mundo, a multidão reunida em torno de nós, precisa de ouvir a Palavra de Deus, ouvir que Deus os criou e os redimiu em Jesus Cristo. As “grandezas de Deus” precisam ser anunciadas. Somente assim o Espírito Santo poderá trabalhar nos corações e trazer novos membros para a Igreja cristã.

Com certeza, esta tarefa não é nada fácil. O nosso texto diz que alguns zombaram, dizendo: “Estão embriagados!” Oposição à Igreja, à Palavra de Deus, vai haver sempre. Mas há também o outro lado da história. Lucas, o autor dos Atos dos Apóstolos, nos conta, que por ocasião do dia de Pentecoste quase três mil pessoas foram batizadas! (At 2.41).

Conclusão

Nós somos humanos, muitas vezes medrosos e acomodados. Não esqueçamos, porém, que através do batismo nós recebemos o Espírito Santo, o qual nos dá uma dimensão divina. É esta dimensão que nos possibilita sair para o mundo – começando pela casa do vizinho e até mesmo usando a internet – para anunciar a Palavra de Deus. O resto, os frutos da Palavra, o crescimento da Igreja, etc., fica por conta do Espírito Santo, exatamente como no primeiro dia de Pentecoste. Amem.

Dr. Gilberto da Silva, M.S.T.
Oberursel – Germany
Lutherische Theologische Hochschule Oberursel
mail to: dasilva.g@lthh-oberursel.de
http://www.lthh-oberursel.de

 


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