Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Sexta-Feira Santa – 25 de março de 2005
Série Trienal A – João 19.17-30 – Lindolfo Pieper
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


A VITÓRIA DA CRUZ

João 19.28-30: “Depois, vendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embebedaram de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito”.

Obras inacabadas para pouco ou nada servem. Uma casa construída pela metade, sem o telhado, não serve para moradia. Um curso feito na faculdade, sem se completar todas as matérias, não dá direito a diploma a ninguém. Uma roça limpa e adubada, sem o plantio ou semeadura, não produz colheita.

Assim também acontece no campo espiritual. Se Cristo tivesse apenas começado a obra da salvação sem, no entanto, concluí-la, para nada nos aproveitaria. Continuaríamos ainda perdidos.

Cristo, porém, concluiu a obra da salvação, não a deixou pela metade. É ele mesmo quem nos garante isso. Na Sexta-feira Santa ele publicou esta grande manchete em letras garrafais: “Está consumado!” – está tudo acabado, terminou o meu trabalho!

I

Aparentemente Cristo fracassou. Desde a sua infância até à morte, tudo indicava que Cristo era alguém incapaz para cumprir a missão para a qual ele foi enviado. Humanamente falando, ele foi um fracasso.

Seu nascimento, infância e juventude não tiveram nenhuma expressão aos olhos do mundo.

Para começar: ele não nasceu num palácio, mas numa estrebaria, num curral de gado. Depois foi perseguido, tendo que fugir para o Egito no lombo de um burro.

Quase nada se sabe sobre a sua juventude. A única coisa que nos é dito é que aos doze anos de idade ele foi ao templo em Jerusalém, onde discutiu com os doutores da lei. Depois foi para casa, passando o resto do tempo trabalhando na carpintaria do pai em Nazaré.

No seu ministério não foi bem aceito. Foi chamado de beberão, amigo de publicanos e chefe dos demônios (Belzebu). Até os seus próprios irmãos não criam nele.

Finalmente veio o que se poderia chamar de o fracasso total: foi preso, condenado e morto. Foi preso porque estava perturbando a ordem, foi condenado porque dizia ser uma coisa que aparentemente não era (Deus); e morto porque não ofereceu nenhuma resistência aos inimigos. Ele foi cuspido, humilhado e crucificado entre dois criminosos. Muitos daqueles que o aclamaram no Domingo de Ramos, gritaram: “Crucifica-o, crucifica-o!”

II

Aquela sexta-feira no Calvário parecia o fim, o fracasso, a derrota. Mas as aparências enganam. Deus escolheu as coisas fracas, humildes e desprezadas para realizar a sua obra.

Aparentemente Cristo fracassou. Porém, na verdade, ele triunfou.

Cristo tinha uma missão a cumprir. Esta missão foi estabelecida desde a eternidade: salvar a humanidade, dando a sua vida pelo seu resgate.

Embora parecesse pobre numa estrebaria, ele era o Filho de Deus. E o diabo sabia disso e procurou, através do rei Herodes, logo matá-lo. Depois, no seu ministério, embora rejeitado pelos homens, continuava sendo o Filho de Deus. E o diabo, sabendo disso, procurava por todos os meios o convencer para que desistisse do seu plano: no deserto lhe ofereceu todos os reinos do mundo; no Getsêmani fez com que uma profunda tristeza tomasse conta do seu coração; e na cruz atiçou os inimigos para que gritassem: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz e salve a si mesmo e a nós também”.

Cristo não aceitou a proposta do diabo, não desanimou e nem desceu da cruz. Esta era a vontade de Deus, o seu plano para com ele.

Se ele teve um nascimento humilde, um ministério questionado e uma morte vergonhosa, era porque este era o plano de Deus para com ele, esta era sua missão. Tudo isso já fora predito nas profecias. Diz o profeta Isaías, no capítulo 53 do seu livro:

“Era desprezado, e o mais rejeitado entre todos os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer, e como de que os homens escondem o seu rosto, era desprezado e dele não fizemos caso. Certamente ele levou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.

Diante disso, a morte de Cristo não foi um fracasso, mas sim uma vitória. Na cruz Cristo foi castigado em nosso lugar. Na cruz Cristo esmagou a cabeça da serpente, venceu a morte e o diabo. Na cruz ele consumou a obra da salvação.

Aquilo que nós deveríamos sofrer, Cristo sofreu em nosso lugar. Cristo sofreu o castigo, o abandono e o inferno em nosso lugar. Agora Deus não mais está irado conosco. Agora não mais precisamos temer a morte e nem o inferno. Agora as portas dos céus estão abertas, todos podem ir para lá. Agora podemos dizer com o aposto Paulo:

“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 15.54-56).

Agora podemos cantar: “Eu não temo nem a morte, pois já dela me livrou. Tem mudado a minha sorte, meu Jesus que me salvou” (LS 34.3).

III

Qlhando para a Sexta-feira Santa temos duas reações. De um lado ficamos tristes. Ficamos tristes porque sabemos que foram os nossos pecados que levaram Cristo a morrer na cruz. Foram os nossos pecados que fizeram ele sofrer e a clamar: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Como o poeta sacro dizemos nesta hora:

“Ó fronte ensangüentada, ferida pela dor, de espinhos coroada, marcada pelo horror! Ó fronte outrora ornada de eterna glória e luz, agora desprezada – adoro-te, Jesus! // O que tens suportado foi minha própria dor; eu mesmo sou culpado de tua cruz, Senhor. Oh! vê-me, aflito e pobre: só ira mereci. Com tua graça encobre o mal que cometi!” (HL 88.1,3).

Se de um lado ficamos tristes com a morte de Jesus, de outro lado ficamos alegres. Ficamos alegres porque, embora tenham sido os nossos pecados que levaram a Jesus morrer, a morte de Cristo nos mostra o grande amor de Deus, o quanto ele nos ama.

Deus nos poderia deixar abandonados no pecado, entregues ao diabo e à condenação eterna. Porém Deus nos ama e veio ao nosso encontro. Ele preferiu ver o seu próprio Filho sofrer do que nos ver no inferno. Por isso também dizemos como o poeta sacro:

“Momentos de alegria e grande bem estar, ó meu divino Guia, eu sinto ao meditar no que por mim fizeste. A fim de me remir a própria vida deste. Eu quero te servir” (HL 88.5).

E estas duas reações devem acompanhar toda a nossa vida.

Cada vez que caímos em pecado, que praticamos uma coisa errada, devemos nos lembrar que foram os nossos pecados que levaram Jesus à morte. Que, portanto, o pecado é uma coisa horrível, que devemos odiar.

Quando, porém, nos arrependemos dos nossos pecados e confiamos no perdão de Deus, os nossos corações devem se encher de alegria e gratidão. Nessa hora devemos cantar:

“A ti, meu grande Amigo, tributo gratidão. Tu foste bom comigo obtendo o meu perdão. Trouxeste a bonança: é bom assim morrer. Contigo se descansa, a glória anelo ver” (HL 94.7).

Que Deus nos conceda neste dia este duplo sentimento e nos faça ver na morte de Cristo na cruz, não um fracasso, mas sim uma vitória. Em nome de Jesus. Amém.

Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
pierlin@bol.com.br
www.ielb.org.br


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