Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

OCULI – Terceiro Domingo na Quaresma – 27 de fevereiro de 2005
Série Trienal A – Salmo 25.15 – Gleisson Roberto Schmidt
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor, pois ele me tirará os pés do laço (Salmo 25.15)

Dos olhos, um olhar. Um olhar que pode transmitir muita coisa.

É de festa o olhar da mãe que, após o dolorido parto, vê chegar aos seus braços o filho tão esperado. É de luto o olhar do filho que volta para a casa depois de enterrar sua mãe.

É de esperança o olhar da esposa que vê seu marido partir para a guerra – esperança de que o marido volte a salvo para casa. É de ansiedade o olhar do marido que, de dentro do veículo, depois da triste jornada, vê se aproximar ao longe sua cidade, sua gente. É de emoção o olhar de ambos quando podem, novamente, ver um ao outro.

“Comer com os olhos”, quem já não o fez? “Olhar para o futuro”, “não olhar para trás” – quanto nos esforçamos nisso? “Olhar para dentro de si”, o objeto mais obtuso de nosso olhar – pois nós mesmos somos ele...

Dos olhos do salmista parte também um olhar: “Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor, pois ele me tirará os pés do laço”. A metáfora oculta aqui nos conduz à imagem do animal preso por uma rede ou armadilha de caça (a palavra traduzida por “laço” pode significar também “rede” ou “armadilha”), mas que olha com insistência para aquele que crê ser seu libertador.

Olhar suplicante, mas que carrega em si uma certeza: “Ele me tirará os pés do laço”.

O olhar do sujeito preso na armadilha é suplicante porque seu estado é desconfortável, terrivelmente incômodo, e mais do que isso: é olhar angustiado. Foi privado de sua anterior liberdade. Sua situação agora é péssima. Falta-lhe aquilo sem o que já não pode ser mais tudo o que era antes.

Mas ao mesmo tempo é olhar persistente, movido pela certeza da libertação que virá do Senhor. “Ele me livrará”. Sem uma palavra de lamentação, apenas com essa certeza. Simples assim.

Existe um conceito bastante básico de administração que distingue dois focos de atenção em meio a uma situação problemática: diante da crise, pode-se dispender energia focando o problema, ou focando a solução do problema.

Há algum problema que aflige a sua vida hoje, meu amigo, minha amiga? Você consegue identifica-lo, nomeá-lo? Se sim, você pode olhar histericamente para ele, lamentar-se de quão grande ele é e o quanto o faz sofrer, ou pode voltar sua esperança para aquele que pode resolver o seu problema: Deus. A escolha é sua.

Imagine apenas se o Salvador, Jesus Cristo, em meio ao seu martírio se tivesse deixado sucumbir diante do sofrimento – e que grande foi o sofrimento pelo qual ele passou! No jardim de Getsêmani: “Estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22.44). Na casa de Caifás, o sumo sacerdote judeu: “Uns cuspiram-lhe no roso e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!” (Mateus 26.66-67). No pretório: “Logo a seguir, os soldados do governador... reuniram em torno dele toda a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate; tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na na cabeça, e na mão direita um caniço; e, ajoelhando-se diante dele o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E cuspindo nele, tomaram o caniço, e davam-lhe com ele na cabeça” (Mateus 27. 27-30). No Calvário: “O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é de fato o Cristo de Deus, o escolhido. Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (Lucas 23.35-37). Com o espírito preparado para tudo o que havia de padecer, Jesus, em lugar de se desesperar diante do sofrimento desumano a que fora sujeito, até na hora da morte entregou-se nas mãos de Deus: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E dito isto, expirou” (Lucas 23.46).

E o maior consolo: ele fez tudo isso por mim e por você. “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Isaías 53.4-6). Por causa de Cristo, nós agora temos restabelecida nossa comunhão filial com Deus, antes destruída pelo pecado. Por causa de Cristo, nós agora temos a liberdade que vem da certeza do perdão e do amor de Deus. Agora, a pergunta que se dirige a nós é aquela feita por Paulo aos romanos: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8.31-32).

Diante das armadilhas, dos laços de morte que nos enleiam no caminho dessa vida, a Escritura nos convida a olharmos com confiança para aquele de onde vem a libertação certa. Diante dos problemas que enfrenta, você tem uma escolha a fazer: olhar para a gravidade da situação, ou para aquele que pode socorre-lo em meio ao “vale da sombra da morte” pelo qual passa. A escolha é sua. Por isso, faça uma boa escolha. “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossas almas” (Hebreus 12.1-3). Amém.

Gleisson Roberto Schmidt
Vila Velha, ES – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
rev_gleisson@hotmail.com
www.ielb.org.br

 


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