Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

DOMINGO DA TRANSFIGURAÇÃO – 06 de fevereiro de 2005
Série Trienal A– Mateus 17.1-9 – José A. Schwanke
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


“OUVIR JESUS FALAR”

A cada ano, na semana em que as pessoas do mundo procuram ocultar a sua identidade atrás de fantasias, máscaras... e se soltam na folia do Carnaval, o povo de Deus é convidado a contemplar uma cena de Epifania em que o Filho do carpinteiro de Nazaré, apontado por João Batista como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1. 29), revela, manifesta a Sua verdadeira identidade sobre um monte.

Transfigurado, com o rosto brilhando como o sol, Suas roupas brancas como a luz, sendo envolvido por uma nuvem luminosa, Deus revela quem é Jesus: “meu Filho amado!”, “o Rei ungido”, confirmando a Sua obra: “em quem me comprazo”.

A transfiguração de Jesus não é de fácil compreensão. É um dos grandes mistérios relatados pela Bíblia. Trata-se, portanto, de um acontecimento para o qual não temos nenhum referencial, a não ser um detalhe da narrativa. Mas antes de qualquer outra consideração, permitam fazer-lhes uma pequena revisão de como Jesus, Pedro, Tiago e João chegaram ao topo daquele monte e o que aconteceu enquanto lá estavam.

A história inicia com uma referência de tempo, “seis dias depois”. Os acontecimentos de “seis dias antes” iniciaram com Jesus perguntando a Seus discípulos: “Quem o povo diz que o Filho do Homem é?” (16. 13).

Neste momento em Seu ministério, desde a Galiléia até Jerusalém, haviam surgido rumores e especulações a respeito Dele. Alguns pensavam que Ele era um profeta, talvez Elias ou Jeremias, que tivesse ressuscitado. Outros O confundiam com João Batista.

Enquanto os discípulos iam relatando aquilo que se comentava entre o povo, Jesus quer saber o que eles pensavam a Seu respeito, para ver se eles sabiam quem Ele era e qual a Sua missão: “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?” – Pedro, sempre pronto para responder, confessou: “Tu é o Cristo, o filho do Deus vivo!

Jesus alegrou-se com esta afirmação de fé, pois ela não era resultado de obra ou entendimento humano, mas de revelação divina. E, em resposta ao testemunho de Pedro, Jesus, mais uma vez, compartilha o plano de Deus, pelo qual tornaria a salvação uma realidade: sofrimento, morte em Jerusalém e ressurreição no terceiro dia. E novamente é Pedro, aquele que não perde oportunidade de falar, desta vez diz: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá”. Jamais acontecerá? Saberia ele, melhor do que o Pai, o que precisava ser feito por graça, para a salvação e a vida eterna? O caminho estreito, duro e trabalhoso foi o único caminho que o Pai colocou diante de Seu Filho. E a interferência de Pedro, sugerindo um atalho, um caminho mais curto, mais largo e mais fácil, imediatamente, recebe de Jesus a chocante repreensão: “Arreda, Satanás!

O melhor que se poderia dizer para Pedro e os outros discípulos, ao que parece, era, que eles tinham fé e entendimento, mas esta fé ainda precisava ser moldada, configurada e orientada.

Seis dias depois” desses acontecimentos é que Jesus toma três dos Seus discípulos mais chegados e sobe o monte. A Transfiguração foi vista por eles, mas, a princípio, não foi para eles, e sim, para o próprio Filho do Deus vivo. Em meio à evidência daquele mistério, e glória excelsa Ele próprio recebeu confirmação de Sua missão, sabendo com certeza, que o caminho daquele monte (Hermom?) até Jerusalém, a um outro monte (Calvário), era a vontade de Seu Pai. A voz de Deus, vinda da nuvem é quem revelou a verdadeira identidade Dele, confirmando-O em Sua missão: Jesus – verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Seu corpo humano, prestes a ser desonrado, abusado, desfigurado, destruído... enche-se, aqui sobre o monte, com a própria majestade e glória divinas.

Com a intenção de dar ênfase aos fatos seguintes da história, Mateus inicia, a cada novo acontecimento, como fator surpresa, com uma interjeição: “Eis!”, “Vejam!” O primeiro foi o aparecimento de Moisés e Elias conversando com Jesus. Cada um deles já tinha tido a sua própria experiência sobre o monte, na presença de Deus.

A segunda interjeição introduz a nuvem luminosa que os envolveu. A nuvem fazia parte da história gloriosa de Israel, assinalando sempre a presença do onipotente Deus e o lugar em que a Sua glória assiste. A terceira interjeição segue imediatamente após a vinda da nuvem, e introduz a voz divina que vem da nuvem e diz; “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Palavra de aprovação divina e penhor de filiação e relação paternal! Ela já havia sido pronunciada anteriormente, por ocasião do batismo de Jesus. Se havia dúvidas para os que a ouviram naquela ocasião, agora não há. O plano de Deus foi ratificado e Jesus confirmado em sua obra, pelo Pai celeste.

Embora maravilhosos, todos esses acontecimentos presenciados sobre o monte fogem do alcance da experiência humana. Mas havia uma última palavra, tangível, que nos quer enraizar firmemente pela fé. A voz vinda da nuvem deu aos discípulos toda orientação de que necessitavam; ela lhes ordenou: “a Ele ouvi!” – a Jesus... para que pudessem despertar para a vida...! Para que pudessem encontrar o Caminho, a Verdade, a Vida, para suas vidas neste mundo e para a eternidade.

Esta é a única parte de toda a narrativa que também nós podemos compreender facilmente. Por isso, eu pergunto: como está a sua audição? Quantas vezes alguém já lhe disse: ouça bem!?

Há uma ênfase muito grande no pedido de atenção, porque em geral, não damos muita atenção, ou nos fazemos de surdos... Crianças e adultos precisam ser acordados: o que você está fazendo? E questionados: você está me ouvindo? Muitas vezes os professores se queixam: Vocês estão me ouvindo? Parece que estou falando para as paredes!

A verdade é que a maioria de nós não é bom ouvinte – não importa se o que fala conosco é uma outra pessoa ou o próprio Deus, quando ele fala conosco em Sua Palavra. A boa audição requer tempo, concentração e esforço. A nossa audição é muito pobre e fraca, porque geralmente estamos com pressa, há muita correria... e tantas distrações! Por isso, à vezes, também já estamos muito cansados para ouvir da forma em que é preciso.

A boa audição sempre resulta da busca da informação; de instruções e encorajamento que nos levam a fazer algo; ou nos dão o senso de sermos enriquecidos e edificados em nossas mentes e espírito. Quando damos ouvidos a Jesus, este é um ouvir que deveria levar-nos à ação – para que confiemos Nele sempre mais firmemente e a vontade de Deus seja feita aqui na terra; para que o seu reino venha a nós e, através de nós, aos outros.

A transfiguração foi uma experiência tão poderosa a ponto de os três discípulos serem golpeados ao chão, cobertos de medo, cheios de temor, por estarem na presença do próprio Deus. Pobres pecadores! Jesus, então, faz algo notável, sim, extraordinário! Ele não apenas fala: “Erguei-vos e não temais!”, mas Ele “ toca em seus discípulos”, os acaricia com as mãos.

Em muitas outras ocasiões, no Evangelho de Mateus, esta mesma palavra é usada e este mesmo gesto é atribuído a Jesus quando Ele curava alguém. Jesus tocou em discípulos aqui sobre o monte e em muitas outras ocasiões mais adiante. Aqui, Ele os livrou do medo, mas este Seu toque de cura teria um efeito mais prolongado, para aqueles momentos em que eles não estariam dando ouvidos a Ele, mas a outras vozes, estranhas; negando-O e O abandonando.

Com Sua graça e Seu imerecido amor, Jesus se relaciona, diariamente, com cada um de nós, abraçando-nos em Sua misericórdia, com o toque do Seu perdão para todas as nossas iniqüidades e a cura de todas as nossas enfermidades. O perdão, realmente, faz novas todas as coisas!

A transfiguração é um mistério intocável pelos nossos sentidos! A fé, entretanto, vê a glória destes acontecimentos e nos faz exultar de alegria com o fato de Jesus ter dado ouvidos a Seu Pai, naquele dia; ter sido fortalecido e confirmado em Sua missão – e então, descido do monte para a planície e seguido para Jerusalém, a fim de concretizar a obra da salvação por nós sobre a cruz, que lá adiante O aguardava.

Aquela glória excelsa, repentinamente, desapareceu de Suas vestes. Foi como se Ele tivesse arremangado as Suas vestes para começar a trabalhar. O Seu rosto não mais tinha aquele semblante de glória divina, mas começou a ficar ensopado de suor e ensangüentado, pelo esforço da obra que o Pai Lhe havia reservado – uma obra que não seria para Si, mas sim, para o mundo, para nós.

Ao ouvirmos hoje, no Evangelho, a história da Transfiguração de Jesus, lembrando também a sua crucificação e ressurreição, aquela Voz, ainda hoje tem valor. Ela continua ecoando em nossos ouvidos: “a ele ouvi!

Nós dizemos: “eu creio”, colocando em prática as palavras de Jesus, por seguí-Lo. Recebemos o Seu toque curativo e consolador através do copo e sangue da Sua Ceia. Ele também nos conduz desta Epifania da Sua glória e presença para a planície da nossa vida diária, para o serviço nos vales. E, assim, a nossa missão sempre será: 1º) ouvi-Lo; 2º) falar aos outros a respeito desse Jesus, para que eles também possam ouvi-Lo e sejam salvos. Amém.

Pastor José A. Schwanke
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Erechim - RS – BRASIL
jaschwanke@tpo.com.br

 

 


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