Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo-nono Domingo Após Pentecoste - 10 de outubro de 2004
Série Trienal C - Lucas 16.19-31
Gerson Luis Linden

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Em nome de Jesus. Amém.

Vidas incompletas! Quanta gente vive uma vida incompleta, mutilada, destituída de um significado pleno e de plena realização. Assim era o homem rico, de que Jesus fala no texto de Lucas 16. Apesar da fina vestimenta, da comida de primeira qualidade e dos muitos “amigos” que certamente o cercavam, faltava-lhe algo que pudesse tornar sua vida plena. Se nos seus dias de vida isso não lhe ficou evidente, graças a sua cegueira natural, a morte lhe revelou que nem tudo ia bem. Estava no inferno, lugar de sofrimento, de dor, de remorso.
Também a vida de Lázaro era incompleta. Na verdade, aos olhos humanos, quem sabe “vida” nem seria o melhor termo para designar uma tal triste existência. Miséria, doença, abandono! Uma vida incompleta! Mas que, diferentemente do homem rico da história, tinha em si já o germe da plenitude de vida. O que seguiu-se ao seu fim terreno - a bendita vida no paraíso - demonstrou que era passageira sua imperfeição.
Algo havia em comum naqueles dois homens, por mais diferentes que tenham sido suas vidas neste mundo. Eram vidas incompletas. Porque eram vidas que não traziam em si o que fora planejado no princípio pelo Senhor da vida. O pecado trouxe conseqüências terríveis para nossa vida. Não me refiro ao pecado tão somente como o ato cometido por alguém, que lhe traz conseqüências danosas imediatas (como o dirigir embriagado, por exemplo, que leva alguém a um acidente fatal). O pecado como situação na qual o ser humano está por natureza coloca-nos a todos - “ricos” e “Lázaros” - sob a situação de uma vida que carece da plenitude do que Deus planejou.
A história do rico e de Lázaro mostra de maneira muito evidente que o fim define o todo da vida! Em última análise, Lázaro recebe a plenitude da vida, o que vem a demonstrar que mesmo sua vida terrena, tão coberta de tristeza, tinha uma perspectiva de plenitude. O homem rico, de vida aparentemente abundante de alegrias, se revela vazia, pelo fim que veio a ter. Mas o que é que fez toda a diferença para aqueles dois homens? Seria resposta por demais simplista, e sem fundamentação bíblica, aludir à riqueza de um e à pobreza do outro. A postura pessoal em relação aos bens materiais, sim, tem algo a dizer. E, por sua vez, tal postura está calcada sobre uma visão de mundo e uma escala de valores.
Neste ponto é importante que lembremos o contexto em que Lucas nos relata o episódio do rico e Lázaro. Pouco antes, Jesus fora ridicularizado pelos fariseus que, observa Lucas, “eram avarentos” (16.14). A história dos dois homens, por isso, é um alerta contra uma visão de mundo que supervaloriza os bens e ignora o bem maior. Mas a mesma história traz consigo uma palavra de chamamento a repensar o caminho e a arrepender-se.
O rico chegou a sugerir uma maneira de livrar seus irmãos daquele lugar terrível. Se um morto ressuscitasse - o próprio Lázaro - eles certamente teriam de repensar suas vidas. Ao que Abraão responde: Não, mesmo que um morto ressuscite, eles não crerão, pois o caminho é outro. A propósito, quando um outro Lázaro veio a ser ressuscitado por Jesus, conforme nos relata João, nem mesmo este ato impressionante fez com que os adversários de Cristo repensassem seus conceitos. Na verdade, aquela situação levou-os a planejar com mais detalhe como o matariam (Jo 11.47ss).
Mas há uma palavra de esperança: eles têm Moisés e os profetas, diz Abraão. Trata-se do Antigo Testamento, a palavra revelada de Deus. Ali Ele manifesta sua vontade, seu propósito e o caminho para que as pessoas cheguem à vida plena.
O nosso tempo traz um quadro que não difere em muito daquele visto no tempo de Jesus, particularmente na história do rico e Lázaro. Ainda hoje, as aparências enganam. Há muitas vidas esfaceladas, incompletas, mas que se escondem por detrás de sucesso e riqueza. Um dia as máscaras cairão. O fim de todas as coisas demonstrará a fragmentação em que se encontram as vidas de muita gente. O fim revelará que viver distante do Deus de amor, perdão e vida é viver na morte. Por outro lado, o fim trará consigo surpresas, como foi com o caso de Lázaro. E o fim, como dissemos, trará a mais completa avaliação sobre o todo da vida.
Poderíamos perguntar, então, se é o fim - na morte e no julgamento - que dirá se há algo de realmente bom na vida presente, como pode alguém ter alguma esperança? Há como saber o fim, antes que ele ocorra? A resposta é que o Deus que ressuscita mortos já fez o fim ser antecipado! Em Jesus o juízo que ainda virá manifestou-se antes do tempo. Por um lado, como um juízo aterrador, para o próprio Jesus, que sofreu as dores que o rico agora sofria. Sendo desamparado pelo Pai na cruz (Mt 27.46), suportou as dores do inferno, da condenação ao pecado de toda a humanidade, que Ele estava carregando sobre si. Mas este julgamento antecipado significa redenção para a humanidade e esperança para o futuro. Pois Deus, em Cristo, estava reconciliando consigo mesmo o mundo inteiro. Para os que estão em Cristo, portanto, o fim é conhecido!
Em Jesus, a graça de Deus se manifestou salvadora para todas as pessoas. Por isso, como mostra o apóstolo, podemos viver de maneira a renegar as paixões mundanas e aguardar com alegria a manifestação final de Cristo (Tt 2.11-14). É esta graça de Deus que veio a trazer esperança a Lázaro, através de “Moisés e os profetas”.
Você e eu vivemos vidas ainda incompletas. Não há como negar: temos necessidades materiais, emotivas, espirituais. Ainda vemos e conhecemos as coisas “em parte” (1 Co 13.12). Mas sobre nós também brilha a graça de Deus, em Cristo, de maneira salvadora e plena de sentido. Por meio da sua doce palavra da salvação recebemos o conforto de que nossas vidas estão reservadas para uma herança que não se corrompe e que somos guardados pelo poder do próprio Deus para aquilo que já nos está preparado (1 Pe 1.3-5).
Talvez até que gostaríamos que um morto ressuscitasse para nos contar como é estar com Deus, na plenitude da bênção. Mas esperar tal coisa é andar na contramão do que Deus nos promete. Convém ouvir o que Abraão, que lá está, já nos diz: Vocês têm Moisés e os profetas, os evangelistas e os apóstolos - sim, vocês têm a palavra revelada de Deus. Ouçam o que ela diz! É por aí que vidas ainda marcadas pela imperfeição recebem a esperança da plenitude. Sobre esta palavra vale a pena viver e depositar toda a esperança. Amém.

Gerson Luis Linden
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo, RS
linden@ulbranet.com.br


(zurück zum Seitenanfang)