Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo Oitavo Domingo Após Pentecoste - 03 de outubro de 2004
Série Trienal C - Lucas 16.1-13, Ely Prieto

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


A Parábola do Administrador Infiel

Se há algo que muitas vezes atrapalha ou mesmo, induz o intérprete da Escritura, são os cabeçalhos dos textos bíblicos colocados nas diferentes traduções da Bíblia. Essa parábola, por exemplo, na Almeida Revista e Atualizada, leva o título – A Parábola do Administrador Infiel. A Nova Tradução da Linguagem de Hoje, não muda muito e entitula essa parábola - A Parábola do Administrador Desonesto. Cabe aqui lembrar, que o texto Grego de Nestle-Aland não oferece nenhum título para essa parábola, bem como de resto, para todo o Novo Testamento Grego! O que quero dizer com isso, é chamar a atenção do pregador para que ele não se deixe levar pelos títulos da perícope, mas deixe de fato o texto e contexto falar por si.

Essa parábola vem na sequência de outras três parábolas (Lucas 15), e a última – a do Filho Pródigo, está diretamente ligada com o nosso texto de hoje, já que em ambos os casos, nem o filho mais jovem e nem o administrador souberam administrar com sabedoria e prudência os bens que lhes foram confiados.

Lucas 16.1-8 apresenta uma parábola não muito fácil de ser interpretada, e as diferentes interpretações que estão por ai, comprovam esse fato. Todavia, a Série Trienal coloca esse texto diante de nós e cabe ao pregador definir qual a melhor maneira de apresentar o mesmo para a sua congregação.

Definindo o Tema

Lucas 16 apresenta duas histórias que só aparecem nesse evangelho. O capítulo inicia com o episódio do administrador infiel e termina com a história do rico e do Lázaro. Em ambas histórias, o tema unificador é a atitude das pessoas diante da riqueza e dos bens. E a conclusão da primeira parábola parece reforçar esse tema, quando faz uma aplicação com referência a servir a Deus ou mammon (16.10-13).

Jesus continua falando no capítulo 16, todavia, a sua audiência agora é diferente. Se no capítulo 15, ele falava para publicanos, pecadores, fariseus e escribas (vv.1-2), agora Jesus fala diretamente para seus discípulos. Vale frisar, que Lucas 16.1-31 não é a única vez que Jesus aborda o tema riqueza e a administração de bens nesse evangelho, em mais duas oportunidades Ele fala do mesmo assunto – 12.13-34 e 18.18-30. Nexte contexto, é interessante lembrar o que Jesus diz no início do seu discurso: “assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (14.33).

Um Problema na Parábola?

Para alguns, o maior problema na interpretação dessa parábola reside no fato de o senhor ter elogiado o administrador infiel por sua esperteza (v.8). Uma melhor tradução seria, por sua sabedoria ou prudência. T. W. Manson chama a atenção para o fato de que há uma grande dieferença entre, “elogiar o administrador infiel por ter agido sabiamente e elogiar o sábio administrador por ter agido desonestamente.” Em uma situação de crise como aquela, o administrador foi elogiado não por sua desonestidade, mas sim por sua brilhante e rápida ação.

Se essa fosse uma história secular, não haveria muitas dificuldades para se entender a “moral” da história. Acontece que essa é uma parábola contada por Jesus e com certeza, Ele não está recomendando seus discípulos (seguidores) a serem desonestos!

Esse aparente dilema, é sem dúvida um falso dilema. Ele acontece, porque acabamos concentrando a nossa atenção no administrador infiel, como se ele fosse o principal personagem nessa parábola (conferir o que foi dito acima a respeito dos cabeçalhos dos textos bíblicos). Se considerarmos a parábola da perspetiva de Jesus, o foco já não reside mais na desonestidade do administrador infiel, mas sim na misericórdia do senhor. Aqui é interessante observar que a atitude misericórdiosa do senhor para com o administrador que havia desperdiçado os seus bens é semelhante à misericórdia do pai para com o filho pródigo que havia desperdiçado toda a herança do pai. O contexto do evangelho nos permite dizer, nesse caso, que o propósito da parábola é de fato revelar a misericórdia do senhor para com o seu administrador.

Não temos como negar, somos de fato administradores infiéis. Por mais que tentemos fazer tudo certo, sempre cometemos deslizes. Temos sido infiéis tanto no pouco, como no muito (v.10). Temos sido desonestos não só na aplicação do alheio, mas também naquilo que é nosso (v.12). Sabemos da nossa condição, não há o que esconder, continuamos pecadores. Mas é para “administradores infiéis” como nós, que a misericórdia do Senhor está reservada. Devido ao Servo Fiel, Jesus Cristo, o Senhor não mais nos olha como servos infiéis(cf. Hebreus 3;10.23). Jesus é a fiel testemunha que intercede diante do Senhor por nós (Apocalipse 1.5). Através da obra redentora de Cristo, seu sofrimento e morte, e sua gloriosa ressurreição, Ele agora nos confere a sua perfeita justiça. E é essa justiça que faz com que Deus, o nosso Senhor, diga a cada um de nós: “muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu senhor.” (Mateus 25.23).

Ensino a respeito de Deus e Mammon

Na sequência do texto há uma série de conselhos práticos de como aplicar o ensino da parábola (16.9-13). O tema unificador dessas duas seções na perícope é o uso apropriado dos bens. O administrador infiel foi elogiado por ter usado “mammon” sabiamente; agora os discípulos são instruídos por Jesus em como usar “mammon” sabiamente em benefício do reino. Bens materiais podem levar os cristãos a se distrairem de sua maior meta, qual seja, a sua salvação. Ao invés de olharem para o Deus misericordioso como a sua rocha segura (Salmo 18.2), eles podem acabar vendo os seus bens como o esteio de suas vidas, a sua certeza em meio a esse mundo incerto. Nesse caso, os bens podem se tornar um meio alternativo de salvação. Aqui é necessário lembrar que os bens e a riqueza de forma alguma estão sendo condenados, mas sim o seu uso idolátrico. Em Lucas 12, Jesus já havia dado instruções claras de como os cristãos deveriam administrar os bens dados por Deus.

Nos versículos que seguem, Jesus aborda princípios importantes relacionados com o tema mammon. No v.9, vemos Jesus recomendando seus discípulos a agirem como o admnistrador da parábola, que foi sábio e soube usar mammon de forma generosa, ampliando assim o seu círculo de amigos, que no futuro o receberiam em suas casas. O administrador foi extremamente sábio e com habilidade soube avaliar a sua situação realisticamente e, em um curto prazo, encontrou uma solução brilhante para o seu problema. Administrando os bens de seu generoso patrão – de forma generosa, ele conseguiu garantir o seu futuro, evitando passar fome e humilhação (v.3).

Jesus diz que seus discípulos devem imitar não a desonestidade do administrador, mas sim, a sua sábia prudência. Os discípulos são lembrados de que eles também são administradores (mordomos) dos bens que Deus lhes confiou. Em um curto período, eles devem trabalhar com esses bens sabiamente, partilhando os mesmos generosamente com um olho no futuro, “os tabernáculos eternos.” Agindo assim, eles irão prover para si mesmos “...tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão nem a traça consome,” (Lucas 12.33).

Nos vv.10-13, Jesus lembra seus discípulos que, o que eles têm aqui, é “pouco” em comparação com a “verdadeira riqueza” que lhes está reservada. Mas é nessas pequenas coisas que eles devem demonstrar a sua fidelidade; agindo assim com devoção ao seu único Mestre, eles servirão a um “único Senhor” . Agindo com sábia prudência, espelhada na parábola ensinada por Jesus, os discípulos (e nós cristãos), podem fazer com que mammon não só sirva à causa do evangelho, mas também lhes traga benefícios eternos.

Sugestão Homilética

Baseado na reflexão acima, a tendência do sermão será enfocar a correta administração dos bens que nos foram confiados por Deus (objetivo de vida). Diante da premência do tempo precisamos ser sábios mordomos, buscando segurança não nas coisas perecíveis, mas sim, nas eternas. O que se requer do mordomo é que ele seja fiel a seu Senhor, tanto no campo espiritual, como no material. Em resumo, diríamos que sábios mordomos buscam sempre (e unicamente) “servir a Deus” (v.13).

Ely Prieto
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Pastor - Concordia Lutheran Church
San Antonio, Texas, USA
elyp@concordia-satx.com

 

 

 


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