Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo Quinto Domingo de Pentecostes – 12 de setembro de 2004
Série Trienal C – Lucas 14.1(,7)-14 – Adolpho Schimidt

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Leituras/Perícopes: Sl 119,161-168; Pv 25.6-7; Hb 13.1-8; Lc 14.1,7-14

Lucas 14.1(,7)-14 (SBB, RA):

V. 1- “Aconteceu que, ao entrar Ele num sábado na casa de um dos principais fariseus para comer pão, eis que o estavam observando”.

Há tempo Jesus é admirado, amado e honrado pelas multidões: “Muito se maravilhavam da Sua doutrina, porque a Sua palavra era com autoridade” - “Que palavra é esta? pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem!” - “E a Sua fama corria por todos os lugares da circunvizinhança” (Lc 4.31-37).

Agora, os líderes espirituais de Israel observam Jesus. Eles têm intenções maldosas!

V. 2- “Ora, diante deles se achava um homem hidrópico”.

Ali está o enfermo na casa, não porque esse líder da igreja judaica e seus convivas querem que Jesus cure o doente. Eles vêem em perigo a sua posição privilegiada perante o povo. Invejam e odeiam Jesus, mas têm de tolerar a sua atividade. Tentam provocá-lo a transgredir a Lei, para declará-lo falso profeta e eliminá-lo. Como hienas circundam a possível presa até ela apresentar fraqueza, assim eles atuam com Jesus. - Noutra ocasião, similar a esta, “retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam contra ele, sobre como lhe tirariam a vida” (Mt 12.9-14).

Estes aqui prepararam astuciosa cilada: Perante reconhecidos cumpridores e conhecedores da Lei de Moisés está um doente, no sábado, diante do homem que cura doentes. Curar é trabalhar. É proibido trabalhar no sábado! - Mediante um ardil, os legalistas tentam livrar-se do importuno Jesus. Encenam amor e hospitalidade, mas Ele lhes conhece pensamentos e intenções. Não os despreza nem odeia nem teme. Perfeito conhecedor da natureza humana, Ele fala e age por audaciosa compaixão com o doente e com eles:

V. 3- “Então, Jesus, dirigindo-se aos intérpretes da Lei e aos fariseus, perguntou-lhes: É ou não é lícito curar no sábado?”

Pergunta tão incisiva que deixa os adversários mudos. O que respondessem os desmascararia: Afirmando não ser lícito, Jesus traria exemplos de que a Lei de Deus não visa a prejudicar, mas ajudar as pessoas. Dizendo ser lícito, confessariam sua perversa intenção, a Ele conhecida, e teriam de emendar-se. É o que Jesus lhes deseja!

V. 4- “Eles, porém, nada disseram. E, tomando-o, o curou e o despediu”.

Mas também calados, os superficiais sabedores e praticantes da Lei se traem. Confessam não saberem resposta. – Ele, porém, divinamente firme, responde curando o doente: Praticar o bem no Sábado é lícito, é cumprimento da Lei, é ato do amor de Deus. Deus nos coloca o próximo no caminho para nele manifestar o Seu amor por meio de nós, Seus servos. Com isso o Senhor Jesus Cristo demonstra Sua total credibilidade e nos dá Ele próprio um exemplo de atitude cristã.

V. 5– “A seguir, lhes perguntou: Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?”

Não se pode, evidentemente, brincar com isto: Deus sabe sempre das nossas intenções. Ele nos deu o Dia do Descanso, não para sermos egoístas nem escravos, mas para termos excelente oportunidade de ouvir a Palavra da Vida (Lc 10.38-42;11.28).

Mas o próprio Deus nos encaminha e nos concede discernimento para praticarmos, também no Domingo, a Palavra que ouvimos e cremos. É manifestação da “obediência por fé” (Rm 16.26), pois fomos “criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). De repente as boas obras aí estão à nossa espera! Quem, cristão, poderia de consciência tranqüila esquivar-se das obras de Deus, de ajudar o próximo – porque é Dia de Descanso?!

V. 6– “A isto nada puderam responder”.

Cristo Jesus coloca diante desses fariseus e escribas uma oportunidade de andar nas boas obras de Deus. Mesmo não podendo curar o doente, poderiam honrar o mesmo e, sabendo que Jesus tem amor e poder para curar, pedir-lhe que o cure.

O homem enfermo nada alegou de mérito pessoal ou dignidade própria. Confia na compaixão de Jesus. Por misericórdia, Jesus o cura – e o despede, para que ele não mais seja usado como infame pretexto pelos soberbos. Não obstante, o Senhor tem igual amor aos arrogantes e pretensos auto-suficientes e perfeitos conhecedores e cumpridores da Lei. Prepara o terreno para lhes ministrar amorosa lição de humildade. Pois Ele quer salvar também estes perdidos

V. 7- “Reparando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola”.

Na vida social, age-se corretamente observando certas regras. Também no Reino de Deus. Há, porém, uma diferença decisiva: Regras da sociedade humana podem restringir-se a formas exteriores. Na comunhão dos filhos de Deus, todavia, é critério absoluto o interior, onde ocorrem pensar e sentir, refletir e intencionar, duvidar e crer. Vejamos a parábola elucidativa:

Vs. 8-11- “Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro lugar, para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás, envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. ”

É desconcertante quando convidados a um evento familiar ou social se empenham pelo lugar de maior honra. Pois quem convidou determina quem, após ele, merece maior honra. Desagradam-lhe atitudes de egoísmo e desrespeito. Corrigirá a quem aspirar a mais do que lhe cabe. Tal convidado terá de ceder o lugar usurpado a quem mais honrado. Este, então, será convidado ao seu lugar. A honradez não é verdadeira quando alguém a atribui a si próprio. O rei é honrado pelo seu povo, e o cidadão é honrado pelo rei – e pelos concidadãos!

No Reino de Deus os critérios, aparentemente similares, têm profundidade: “Todo caminho do homem é reto aos seus próprios olhos, mas o Senhor sonda os corações” (Pv 21.2). “Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado”. A humildade não é virtude de pobres, nem a soberba exclusividade de ricos, famosos e poderosos. Sempre depende do espírito que move a pessoa: o do egoísmo ou o da filantropia autêntica.

Por natureza, somos incapazes de orientar-nos correta e convenientemente. Herdamos o terrível vício, o pecado, fonte de todos os “sub-vícios”, à frente dos quais o egoísmo. Somente Deus sabe, pode e quer orientar-nos, renovar-nos o interior, limpar-nos o “coração” humano, trocar conteúdos naturais, todos perversos, arrogantes e maldosos, pelos conteúdos divinos, entre estes: humildade, pureza, bondade, altruísmo. São virtudes do próprio Cristo Jesus, que Ele, Deus eterno, tem pela Sua natureza. Ao assumir Deus, no Cristo, a natureza humana, esta recebeu todas as divinas virtudes.

O Cristo, Deus e Homem, detentor de todas as virtudes, fala a esse dono da casa e seus convivas. Vê que estão absolutamente faltos da virtude primeira: o amor a Deus e, em conseqüência, o amor ao próximo. Aos óbvios transgressores da Lei de Deus falta amor! Pois “o cumprimento da Lei é o amor” (Rm 13.10). Eles bem o sabem (Lc 10.25-37), mas intentam eliminar a manifestação viva do amor de Deus, personificada no Seu Cristo. No coração, já mataram Jesus. Mas Ele, que, no maior sofrimento, rogará: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, aqui já se encontra no Seu bendito sacrifício. Fala-lhes serena e humildemente no intuito de amolecer os pétreos corações, convertê-los ao amor de Deus e assim salvá-los eternamente.

Vs. 12-14- “ Disse também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos. ”

O Mestre dos mestres não pretende ensinar boas maneiras ou relações sociais proveitosas ao fariseu anfitrião. Nem tirar uma desforra pela falsidade deste homem, inimigo seu. Diante de todos, Jesus fala ao que convidou. Todos devem aprender a agir dignamente, sem esconsas pretensões.

Vale para nós hoje o mesmo. Há sempre quem diga ou pense: “Se eu ajudar ou for cordial ou generoso a este e aquele... de repente precisarei de ajuda no futuro... e isso é uma espécie de garantia...”. Esse tipo de comércio, clandestino ou óbvio, prosseguirá enquanto a terra durar.

Não assim no Reino de Deus. O Senhor Jesus, perfeito sabedor e cumpridor de toda a Lei, leciona: Filhos de Deus não são especuladores. No Seu Reino, não existe “do ut des”, “toma lá - dá cá”, ou seja, “eu lhe faço um favor para que você - ou Deus! - mo retribua ou recompense”.

Também hoje há desprezo, inveja e ódio contra a Palavra de Deus e os que vivem orientados por ela. A perversa lei humana de convivência está dentro das pessoas, também ainda nos cristãos - e tão tenaz que eles não conseguem e por vezes até nem desejam combatê-la! Nós necessitamos de constante revisão da nossa vida, de arrependimento, de perdão dos pecados, dos ensinamentos de Deus, do Espírito Santo. Pois somente Deus tem o poder e o amor para nos curar da praga herdada, para impedir que dela morramos - eternamente!

A Lei do reino de Deus é diametralmente oposta e contrária à lei natural humana. Somente Cristo Jesus pode cumpri-la perfeitamente. Confiemos Nele e recorramos a Ele como nosso Advogado perante o Pai. Unicamente Ele teve as imprescindíveis condições de nos representar também na culpa da nossa total desobediência e pagar integralmente por ela ao Pai. Carentes da justiça e santidade que Deus exige de nós, seríamos condenados, não nos tivesse sido obtida, oferecida e assegurada a solução do nosso fatal dilema pela obediência e pelo sacrifício substitutivo do Cristo.

O Senhor do Banquete excelso nos convida - sabendo da nossa incapacidade de Lhe retribuir o mínimo que seja. Mas Ele se nos apresenta no nosso próximo para neste agradecermos e demonstrarmos confiança e amor ao Deus de todos nós. Tendo recebido de graça a nossa salvação eterna e todos os bens espirituais, essenciais à nossa vida cristã neste mundo, decresce o impulso insano de buscarmos fúteis recompensas, méritos, dignidade e poder, acima e às custas do nosso próximo, contra a glória do Senhor. O santo Deus nos aceita por causa do sacrifício do Seu Filho em nosso lugar – por que ainda desejar exaltar-nos? Que mais ainda quereríamos que nos pudesse melhor satisfazer?

Cristo Jesus, o Bem excelso, amorosamente nos convidou e acolheu e nos serve à mesa todo o tempo e na eternidade. Creiamos Nele, sigamos o Seu novo mandamento: Que nos amemos uns aos outros, assim como Ele nos amou e entregou a Si mesmo por nós. E utilizemos a receita de vida para a glória de Deus e para o bem do nosso próximo:

“Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3.8s.).

Sigamos, confiantes, o exemplo do nosso Mestre, Salvador e Senhor Cristo Jesus. Ele prometeu defender-nos e suprir-nos com a Sua paciência, a Sua humildade, o Seu amor. Pois aqui ainda estamos para vivermos as Suas virtudes e assim convidarmos muitos a usufruírem com Ele a Ceia celestial. Amém.

Adolpho Schimidt
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Brasília – DF – Brasil
adolphoschimidt2003@yahoo.com.br
adolphoschimidt@hotmail.com


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