Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo Terceiro Domingo de Pentecostes – 29 de agosto de 2004
Série Trienal C – Lucas 12.49-53 – Adolpho Schimidt

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Palavra do Senhor:
“ Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder.
Tenho, porém, um batismo, com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize!
Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo, antes, divisão.
Porque, daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.
Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha, filha contra mãe; sogra contra nora, nora contra sogra. ”
(Lukas 12.49-53 - SBB-RA)

FOGO E BATISMO – BATISMO DE FOGO

Antecipa-se a tristeza e aflição da parturiente aguardando o iminente difícil trabalho de parto. Mas o desejo de dar à luz a sua criança a encoraja e revigora. Após o parto, bem sucedido, a aflição se esvai e a alegria é imensa!

Inevitavelmente antecede já profunda angústia de Jesus ao auge do Seu sobremaneira árduo trabalho. Mas o amor de Deus à humanidade, o ardente desejo de ver nascer o precioso fruto desta obra divina, a santa igreja cristã, é Sua força para resistir a todas as investidas do maligno, eliminar o motivo da ira de Deus e ser vitorioso.

Jesus tem, por assim dizer, visão a curto, médio, longo e eterno prazo. Entranhadamente querendo que a comunhão dos santos resulte do Seu sacrifício, cresça, progrida, se fortaleça e alcance a plenitude celestial - Ele enfrenta e vencerá todos os obstáculos!

Não somente isto. O Cristo tem consciência perfeita de que está “destinado tanto para ruína quanto para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição ... para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lc 2.34s.).

Na Bíblia, cada palavra é de peso. Dizendo Jesus: “Tenho um batismo com o qual hei de ser batizado”, realça que o batismo é Seu, de Deus na natureza humana, pela vontade de Deus infligido a Seu Cristo. Ele veio para fiel cumprimento do Seu divino ofício. Agora Ele está com os discípulos em Jerusalém. Mui breve enfrentará o adversário principal e cúmplices de crime. E quão terrível: sobretudo sofrerá da parte do Pai celeste o castigo -merecido pela humanidade!

Os discípulos já percebem a seriedade com a qual Jesus lhes profetizou que e como Ele há de morrer. Mas, ao que tudo indica, ainda não registram ter-lhes Ele também predito a Sua vitoriosa ressurreição.

No Getsêmani, Jesus passa a experimentar mais direta e fortemente a aflição, resistindo ao poder das trevas e assumindo o sofrimento do castigo por culpa alheia. - Um anjo do céu o conforta. E, estando em agonia, ora mais intensamente. E o seu suor se torna como gotas de sangue caindo sobre a terra (Lc 22.43s.).

Na cruz, culmina o sofrimento, e o Filho brada ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” A esse Batismo nenhum pecador pode ser submetido. Permaneceria submerso eternamente, condenado. Pois, por natureza, o ser humano carece do que Deus exige: Santidade e Justiça.

A morte do Cristo é parte essencial e conclusiva do Seu santo sacrifício, substitutivo. Para nosso consolo, Ele exclamou: “Está consumado!” e “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito”. A morte dos Seus crentes já não precisa causar-lhes horror, pois é um sono dos justos para serem despertados ao ingresso na mansão celestial.

DAR PAZ AO MUNDO? NÃO! -- TRAZER DIVISÃO? SIM!

“Batismo de fogo” chama-se o primeiro confronto de soldados com os inimigos. Excetuados os demagogos nacionalistas e suas vítimas, há em geral, de ambos os lados, divergência de opinião sobre ir ou não à frente de batalha. Soldados desertores ou traidores sofrem as conseqüências disto. Falta-lhes a fidelidade. São sem valor. Pior: têm valor negativo. Seus familiares também são investigados acerca de fidelidade cidadã.

Aqui referimo-nos à frente de batalha entre dois reinos: Reino dos céus e reino do mundo. De um lado, Deus conduz os Seus fiéis. Do outro está o diabo com seus subordinados. Deus invade com a Sua Palavra território inimigo para conquistar os soldados opositores para o Seu Reino.

Jesus afirma categoricamente: o reino do mundo não dispõe de valores que Deus aceite. Pior: os valores são negativos! Existe uma única exceção: Deus no mundo, unido à natureza humana - Jesus, o Cristo, justo, santo, perfeito como o Pai celestial. Jesus tem o valor que Deus cobra:

Fidelidade absoluta! Veio ao mundo. Colocou-se voluntariamente na frente de combate, no cadinho de Deus. Expôs-se ao batismo de fogo – entre Deus e satanás. Jesus, ouro puro, por si não precisava entrar no fogo para purificação. Mas ocupou o nosso lugar, assumiu a nossa total imundícia. Por causa da mesma e para sermos purificados, Ele foi “queimado”, sofreu os horrores do santo fogo de Deus. Para nos trazer ao Reino de Deus, Jesus deu-nos, em troca pela nossa impureza, a Sua pureza. Doou-se-nos a Si próprio. Fez-nos valiosos aos olhos do Pai.

Saibamos: o inferno é horrendo. É fogo de Deus - para eterno castigo do diabo. Mas os desertores e traidores incorrigíveis, que aqui desprezam a purificação oferecida neste batismo de Jesus, terão a sua paga com o diabo, eternamente.

Os cristãos são fiéis combatentes do Senhor porque antes foram imersos no Batismo purificador de Jesus. Também se encontram no crisol de Deus (Rm 6.1-14).

A grande diferença é que seu sofrer não é meio de se resgatarem da penalidade máxima. Eles já têm o proveito do resgate obtido por Jesus. E podem recorrer constantemente ao batismo, recebido para perdão dos pecados, sempre válido para quem confia nas palavras e promessas de Deus. Jesus é seu Fiador perante Deus e Mediador entre eles e Deus. Agora o Pai os vê através do Filho em Sua Justiça e Santidade. Por isso, mesmo pecadores, eles são justos e santos. “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos Justiça de Deus” (2Co 5.21).

O Cristo assevera: não é castigo o que os Seus sofrem dos incrédulos! “Bem-aventurados os perseguidos por causa da Justiça, porque deles é o Reino de Deus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10ss.).

Crentes em Cristo diferem dos incrédulos. Não são, por si próprios, melhores; mas suas condições são favoráveis, dentro da graça de Deus: são filhos, não por natureza, mas adotivos; no entanto, amados intensa e perfeitamente por Deus – e Deus é amado por eles.

Distingue-os o Espírito que os comanda na batalha espiritual contínua: Não combatem os inimigos, mas falam do engano em que estes se encontram: nas fileiras de um inimigo já derrotado e em fuga. Falam-lhes do amor de Deus; convidam-nos a confiar em Cristo Jesus, vitorioso na singular e mais terrível batalha de todos os tempos. Chamam-nos a darem já meia-volta e se juntarem aos humildes e audaciosos combatentes, nas fileiras do Senhor, no poder do Santo Espírito, que combate o pecado, não o pecador.

É necessário e salutar deixarmos o fogo santo nos tocar, sermos “incendiados”, para purificação, para zelo ardoroso pela causa do Senhor: a salvação dos pecadores. Para esta santa missão Deus ainda nos mantém neste mundo.

O fogo é o poder do Espírito Santo. Ele não tolerou os pecados do mundo, que o Cristo levava sobre si, razão pela qual Jesus teve de sofrer e morrer. Mas, vitorioso, Jesus ressuscitou.

O fogo santo interfere decisivamente na vida dos confrontados com a Palavra de Deus: pró ou contra! “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro” (Mt 6.24).

A Palavra de Deus não une necessariamente nem todos os membros de uma família. A não ser que todos creiam no Cristo. Agrupam-se, separadamente, os de Jesus e os do mundo, embora vivendo fisicamente lado a lado, até na mesma moradia e família! Estes, renitentes e hostis, mas aqueles sempre convidando os que desprezam a salvação.

Para os cristãos, a Palavra de Deus é arma de defesa e de ataque. Embora sofram ferimentos físicos e psiquicamente no combate, permanecem espiritualmente ilesos. Com a Palavra lançam o “fogo” à maldade instalada e pertinaz nos corações dos que não adoram o Deus vivo. Convidam-nos a abandonarem os deuses falsos, resumidos no querer ser igual a Deus (Gn 3) – donde provêm cobiça de riqueza, honra, poder; desprezo, inveja, ódio aos em condições diferentes, respectivamente. Pelo que os ímpios sofrem todos os males advindos da incredulidade e conseqüente desobediência, vegetando sob a ameaça do pior de todos os males.

NÃO HÁ NEUTRALIDADE!

Jesus já lançou sobre a terra o santo fogo que causa ação e reação .

Este fogo aquece os corações dos que vêm a crer em Cristo, purifica-lhes a vida, ilumina o seu Caminho no serviço do Senhor para irem ao encontro do próximo.

Mas também manifesta o íntimo dos adversários de Jesus, que intencionam fazê-lo emudecer, prendê-lo, condená-lo e matá-lo: Inimigos religiosos e políticos tornam-se amigos e formam uma hedionda frente única de combate. Contra o Cristo de Deus, aliam-se fariseus conservadores e saduceus liberais; estes, por sua vez, unem-se aos ocupantes Herodes e Pilatos; enfim, judeus como pretenso povo de Deus pactuam com pagãos há pouco ainda desprezados e odiados. Esbravejam:“Crucifica-o! Crucifica-o! “(Lc 23.21) e rogam sobre si maldição: “E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt 27.25).

Nada mudou! Basta observar as ocorrências no mundo inteiro. Desencadeiam-se desde conflitos pessoais até guerras entre nações - não raro sob o manto imundo falsamente chamado fé cristã, camuflando, como outrora, a cobiça de posses, honra e poder.

Observamos terrível contraste entre o tão desejado pelo Salvador e a reação da humanidade em geral, confrontada com a Palavra da Verdade. Deus profetizou: O futuro “Elias “... converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição” (Ml 4.6).

Os seguidores de Jesus formaram o outro bloco, inicialmente amedrontado e retraído, até ainda após a ressurreição do Senhor. Mas veio o Santo Espírito sobre eles, ocupou-lhes o coração com as Suas virtudes celestiais, inundou-os de alegria pela salvação e ousadia para enfrentarem os mais tenebrosos inimigos.

Leiamos: do fervor missionário de Pedro e João em circunstâncias humanamente desanimadoras (At 4,26-30), da ação do Espírito Santo, que Deus enviou em nome de Jesus, do batismo para perdão dos pecados de milhares de pessoas (At 2.37-41), do ódio mortífero dos principais religiosos judeus contra Cristo, ao ser-lhes dita a Verdade, e dos frutos do testemunho de sangue (At 7.51-60).

Há exemplos em toda a história eclesiástica de receptividade e de rejeição da Palavra de Deus. Posição neutra não é possível, conforme Jesus diz: “Quem não é por mim, é contra mim; quem comigo não ajunta, espalha”.

Fatos extraordinários continuam acontecendo, como a conversão de Saulo, perseguidor da igreja (At 8.1), depois chamado Paulo (At 9), que se tornou um dos mais ardorosos proclamadores da viva mensagem da Salvação. Jesus Cristo é o Senhor!

Em quem se torna cristão surge como que uma dupla personalidade. Há combate. O cristão vive sob a tensão do já e do ainda não; do já ser declarado justo, mas ainda cometer pecados e correr risco de perder a salvação; do já ter a vida eterna, mas ainda não poder desfrutá-la em absoluta segurança e perfeição (Rm 7).

Importa que tenhamos a humildade de espírito, como João Batista apontando para o Cristo: “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). A cura completar-se-á no Grande Dia da Ressurreição! Então gozaremos a Plenitude da Vida eterna.

Amém.

Adolpho Schimidt
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
BRASÍLIA - DF – BRASIL
adolphoschimidt2003@yahoo.com.br
adolphoschimidt@hotmail.com

 

 


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