Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Nono Domingo após Pentecostes - 1 de Agosto de 2004
Série Trienal C - Lucas 10.34-42, Gerson Luis Linden
(-> A las predicaciones actuales: www.predigten.uni-goettingen.de)


Em nome de Jesus. Amém.
Lemos em Lucas capítulo 10, versículos 38 a 42:
“Jesus e os seus discípulos continuaram a sua viagem e chegaram a um povoado. Ali uma mulher chamada Marta o recebeu na casa dela. Maria, a sua irmã, sentou-se aos pés do Senhor e ficou ouvindo o que ele ensinava. Marta estava ocupada com todo o trabalho da casa. Então chegou perto de Jesus e perguntou:
- o Senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar.

Aí o Senhor respondeu:
- Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.” (SBB, NTLH)

A vida é feita de muitos momentos, de diversas oportunidades, de muitas diferentes realizações. Já disse o sábio Salomão que “há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3.1). No entanto, é preciso ter prioridades na vida, pois algumas coisas são mais importantes que outras, independentemente da época ou do lugar. Certos compromissos que temos são adiáveis, outros não. Determinadas tarefas são necessárias, outras nem tanto. Certas ênfases que colocamos para nossa vida são fundamentais para a própria vida, outras são supérfluas, ou ainda, outras são importantes, mas dependendo das circunstâncias.

Há um ditado que diz que as pessoas hoje, ao pensarem em religião, querem ver ações e não ouvir credos (doutrinas)! De fato, uma fé que se resume a uma intelectualização de conteúdos está carente de algo. Mas Jesus nos quer ensinar, no texto deste dia, que uma religião que se ocupa simplesmente do fazer coisas está também carente, ao ponto dela deixar de ser a verdadeira fé.

Quem poderia recriminar Marta por querer servir bem a Jesus, seu visitante tão especial? Aliás, onde o texto diz que Maria estava ocupada com o trabalho da casa, Lucas usa um termo (“diakonia”) que é melhor traduzido por “serviço”, “servir”. Marta está servindo. Está se colocando a serviço do seu importante convidado. Por isso, é de se perguntar, quem iria criticar uma atitude aparentemente tão louvável? Ninguém, por certo! A não ser o próprio Senhor Jesus.

Marta reclama de sua irmã, que até então só estava a ouvir as palavras de Jesus. Não é raro ouvir críticas semelhantes a esta dentro de casa, ou no trabalho, ou mesmo na Igreja. Há os que trabalham, e há os que parecem não estar preocupados com as coisas que devem ser feitas. Não é apropriada, então, a reclamação de Marta? Não é verdade que há os aproveitadores, que ficam “na moleza”, enquanto outros se afadigam com as coisas que “precisam ser feitas”?

Diante disso, é importante não perder o foco do ensino de Jesus. Notemos que Ele questiona Marta porque ela se preocupava com muitas coisas, mas uma era realmente necessária. Aquele momento de sua vida lhe reservava a oportunidade especial de suprir o que realmente lhe era necessário – ouvir a palavra que Jesus anunciava. Cristo não critica o serviço em si, pois há tempo em que ele deve ser realizado. Mas o Senhor questiona a ordem das coisas, a ordem de importância, a prioridade naquilo que se tem pela frente.

É preciso ter prioridades na vida. Há muitas coisas a fazer, mas há aquelas que são mais fundamentais. Ouvir a palavra de Jesus, por exemplo, é sempre algo necessário. Isso não diminui o fato de que devemos servir o próximo em necessidade. Este, por sinal, é o assunto da narrativa do bom samaritano, texto que vem imediatamente antes da história de Maria e Marta. Há quem sugira que Lucas organizou de tal maneira os relatos, colocando estas duas histórias seguidas, para que seus leitores não tivessem uma idéia errada, a partir do “Bom samaritano”. Não há verdadeira religião sem o amor ao próximo, sem dúvida. Mas na base disto está o ouvir a palavra de Cristo, que é fonte de vida, que supre nossa necessidade básica diante de Deus e que nos move a uma vida de amor ao próximo.

Por um lado, temos de concordar com Marta: quem de nós não gostaria de servir a Jesus com o melhor que temos? Em nossa vida diária, temos muitas oportunidades de servir ao Senhor. Sem dúvida, uma delas acontece no serviço ao nosso próximo necessitado. No entanto, é preciso lembrar que Jesus é um convidado diferente. Mais do que buscar o serviço dos que o recebem em casa, Ele próprio vai lá para servi-los. Ele mesmo disse que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45). Isso Ele fez na sua morte de cruz, como pagamento pelos nossos pecados. Este foi o serviço precioso que Cristo realizou, a fim de que nós pudéssemos por ele ter perdão, vida e salvação.

Ouvir a Jesus, por isso, não é sinônimo de estar à toa, de estar desocupado, ou de viver preguiçosamente. Ouvi-lo significa estar valorizando o serviço que ele mesmo realizou por nós. Ouvi-lo é usufruir do que ele realizou por nós, pois a palavra de Cristo não é mera notícia, mas realiza aquilo que promete. É de se perguntar se não ocorre conosco algo semelhante ao que aconteceu a Marta. Preocupados em servir, em fazer coisas - que em si podem ser importantes, nos descuidamos daquilo que é o mais importante, ou, nas palavras de Jesus, daquela uma coisa necessária. Vivemos num tempo em que as ações são exigidas. É preciso demonstrar o que se é, de maneira concreta e prática. O discurso é colocado em dúvida, quando não é acompanhado pela ação correspondente. Sobre isto a história do bom samaritano tem muito a dizer, como já vimos. Mas isto não nos deve levar a ignorar a “uma coisa necessária”.

Fé e serviço não se contradizem, com toda a certeza. A verdadeira fé se manifesta no amor, a Deus e ao próximo. A serviço que agrada a Deus é o que brota da confiança nele. Mas, novamente, valorizando o texto que temos diante de nós, é preciso dedicar tempo - e bom tempo - para a uma coisa necessária. Cristãos são tentados a pensar que já ouviram muito e que é tempo de agir. Outra forma de engano é dizer que já se falou muito em justificação e é preciso falar mais de santificação. Na verdade, sempre que se joga uma destas contra a outra se está na contramão da vontade de Deus. É preciso, porém, confessar que por mais que o tempo passe, por mais que nos julguemos crescidos na fé, maduros para a ação, sempre seremos filhos de Deus, necessitados do carinho, do amor, do consolo que o Pai somente pode dar. É este aconchego do nosso amado Deus, que nos vem por sua graciosa palavra, que nos alimenta e revigora para a vida de cada dia.

Há coisas importantes a fazer, sem dúvida. Temos um importante serviço a fazer, especialmente no amor ao nosso próximo. Mas o serviço prioritário é aquele que Jesus ainda continua a realizar – pela sua palavra, nos traz vida, consolo, ânimo e força para cada dia, e nos conduz à vida eterna, pela fé nele. Ouvir Jesus – esta é a nossa prioridade. E o próprio Senhor traz uma palavra confortadora - esta uma coisa necessária ninguém nos pode tirar! Valorizemo-la, pois, como o que há de mais prioritário na vida: ouvir Jesus. Amém.

Gerson Luis Linden
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo, Brasil
linden@ulbranet.com.br

 

 


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