Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Oitavo Domingo Após Pentecoste - 25 de julho de 2004
Série Trienal C - Lucas 10.25-37, Ely Prieto
(-> A las predicaciones actuales: www.predigten.uni-goettingen.de)


Essa é uma das parábolas de Jesus que provavelmente a maioria das pessoas, sendo cristãos ou não, já tenha ouvido falar, ou mesmo tenha algum conhecimento. O termo “Bom Samaritano” é usado vez por outra pela mídia para descrever alguém que tenha se desviado de seu caminho e/ou atividade para ajudar alguém em necessidade. Há várias organizações humanitárias – hospitais, clubes de serviço, entidades sociais - que fazem uso do nome “Bom Samaritano” para descrever o tipo de serviço que prestam à sociedade.

Mas a parábola do Bom Samaritano tem muito mais a dizer, do que apenas: “é bom ajudar alguém em necessidade. A parábola também aborda temas como: a escusa, justiça própria, religião de faxada, discriminação, e assim por diante. Fica muito difícil para um pregador abordar todos esses temas em um único sermão, sendo assim, partilho apenas alguns pensamentos para ajudar o pregador em sua reflexão homilética.

O Bom Samaritano

A parábola do Bom Samaritano é sem dúvida uma das passagens do Novo Testamento que mais sofreu interpretações alegóricas por parte dos pais da igreja. Alguns procuraram identificar o homem semi-morto à beira da estrada com a condição pecaminosa de toda a humanidade – “semi-mortos” em trangressões e pecados. Outros viram o Bom Samaritano como Cristo; o óleo simbolizando esperança; o vinho as boas obras; a hospedaria a igreja, o hospedeiro o apóstolo Paulo, e assim por diante.

É verdade que alguns pais da igreja foram mais felizes do que outros em suas interpretações e todos nós temos que concordar que faz mais sentido associar Cristo com o Bom Samaritano do que o hospedeiro com o apóstolo Paulo. Todavia, mesmo sem chegar ao extremo de dizer que o Bom Samaritano representa Cristo, podemos ao menos afirmar que o Bom Samaritano nos lembra Cristo e o seu amor por nós – seres mortalmente feridos e sem esperança de resgate. Mesmo que o pregador não venha a sugerir essa associação, imagino que ela seja inevitável na mente dos ouvintes. Seja como for, podemos ver no Bom Samaritano um reflexo da ação de Cristo por nós. Cristo, em seu amor pela humanidade, foi ao extremo e pagou o mais alto preço para resgatar a humanidade caída. O resgate não foi pago com ouro ou prata, mas com o precioso sangue do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (cf. 1 Pedro 1.18-19; João 1.29).

Justificação x Santificação

A conclusão desta parábola - com sua direta indicação “vai, e procede tu de igual modo” (v.37) - aponta para um objetivo de vida no sermão, ou seja – santificação. Todavia, estranhamente, a parábola inicia com uma pergunta relacionada à justificação, objetivo de fé – “mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (v.25).

Esse peculiar aspecto da párabola, sugere duas coisas: primeiro, que quando se trata de justificação e santificação, não pode haver confusão entre essas duas doutrinas; todavia, as mesmas não podem ser separadas uma da outra. Fé e obras caminham lado a lado. A fé sem obras é morta, e obras sem fé, não têm valor algum para Deus. Em segundo lugar, é preciso lembrar que é a justificação que viabiliza a santificação. É a fé, motivada pelo evangelho, que produz obras. A relação horizontal – amar o próximo, depende da relação vertical – amor a Deus. Usando a imagem da própria parábola, é possivel dizer que apenas podemos ser um bom samaritano para alguém, somente porque Cristo foi primeiro Bom Samaritano para nós. Usando as palavras do apóstolo João: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.” (1 João 4.19).

O intérprete da lei no evangelho de hoje, não tinha essas duas doutrinas claras diante de si, ele pensava que fazendo as obras da lei era o suficiente para alcançar a vida eterna. Jesus, com uma simples parábola, mostrou que o intérprete da lei estava errado. “De fato, sem fé, é impossível agradar a Deus.” (Hebreus 11.6). Como diríamos, “o tiro saiu pela culatra” pois o objetivo do intérprete da lei (com sua pergunta), era apenas encontrar alguma prova contra Jesus (cf. v. 25). Ao fim da parábola, o intérprete da lei deve ter percebido que ele não teria condições de ser um próximo para o homem caído à beira da estrada, porque na verdade ele próprio ainda não havia experimentado em sua vida o amor de Deus revelado em Cristo. Como dissemos acima, sem a relação vertical – amor a Deus, não pode existir a horizontal – amor ao próximo. A vida de santificação depende da vida recebida na justificação.

Conexão com o Evangelho

Aqui seria interessante aproveitar as palavras do versículo 29: “ele, porém, querendo justificar-se...” para fazer uma conexão com o evangelho. Na verdade, essas palavras claramente atestam que o intérprete da lei estava tentando “livrar a sua cara.” O que ele queria era manter as aparências não só perante Jesus, mas também perante a audiência que assistia a cena.

Todavia, creio que as palavras do versículo 29, “querendo justificar-se” dão um sentido teológico para a parábola. A pergunta inicial do intérprete da lei: “mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (v.25), soa como alguém que está trilhando o caminho da justificação por obras. Soa como se ele estivesse fazendo o seu melhor para merecer o céu. O que dá a entender é que o intérprete da lei estava querendo encontrar um meio de justificar a si próprio em termos de salvação eterna, ao invés de deixar o próprio Deus justificá-lo por meio de Cristo.

De qualquer forma, essa observação feita pelo intérprete da lei no versículo 29, nos chama a atenção para a verdade clara do evangelho de que não podemos justificar a nós mesmos perante Deus. Somente Deus o pode fazê-lo, por meio da pessoa e obra de Seu Filho Jesus Cristo. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, reafirma essa verdade com todas as letras: “visto que ninguém será justificado diante dele [Deus] por obras da lei.” (Romanos 3.20). Na verdade, somos “justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3.24). Sendo assim, “concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.” (Romanos 3.28).

Essa é a verdade que o intéprete da lei primeiro teria que aprender, antes mesmo que pudesse pôr em prática a lição colocada diante dele por Jesus ao fim da parábola – a de ser o próximo para alguém em necessidade. Somente após ter experienciado Cristo como o Bom Samaritano em sua própria vida, o intérprete da lei poderia se tornar um bom samaritano para outros em necessidade.

Rev. Ely Prieto
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Pastor - Concordia Lutheran Church
San Antonio, Texas, USA
elyp@concordia-satx.com

 


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