Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach und J. Neukirch

Quarto Domingo Após Pentecostes – 27 de Junho de 2004
Série Trienal C - Lucas 7.36-50
Jonas Roberto Flor


Um fariseu convidou Jesus para jantar. Jesus foi à casa dele e sentou-se para comer. Naquela cidade havia certa mulher de má fama. Ela ouviu dizer que Jesus estava jantando na casa do fariseu. Então pegou um frasco feito de alabastro, cheio de perfume, e ficou por trás de Jesus, bem perto, chorando e molhando os pés dele com as suas lágrimas. Depois os enxugou com os seus próprios cabelos. Ela beijava os pés de Jesus e derramava o perfume neles.

Quando o fariseu viu isso, pensou assim: “Se este homem fosse de fato profeta, saberia quem é esta mulher que está tocando nele e a vida de pecado que ela leva.” Jesus então disse ao fariseu: “Simão, tenho uma coisa para dizer a você.” “Fale, Mestre”, respondeu Simão. Jesus disse: “Dois homens deviam dinheiro a um homem que costumava emprestar. Um deles devia quinhentas moedas de prata, e o outro, cinqüenta, mas nenhum dos dois podia pagar ao que havia emprestado. Então ele perdoou as dívidas dos dois. Qual deles vai estimá-lo mais?” “Eu acho que é aquele que devia mais”, respondeu Simão. “Você está certo”, disse Jesus.

Então virou-se para a mulher e disse a Simão: “Você está vendo esta mulher? Quando entrei, você não me ofereceu água para lavar os pés, porém ela os lavou com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Você não me beijou quando cheguei; ela, porém, não pára de beijar os meus pés desde que entrei. Você não arranjou azeite para a minha cabeça, porém ela derramou perfume nos meus pés. Afirmo a você, então, que o grande amor que ela mostrou prova que os seus muitos pecados já foram perdoados. Mas a pessoa a quem se perdoa pouco mostra pouco amor.”

Então Jesus disse à mulher: “Os seus pecados estão perdoados.” Os que estavam sentados à mesa começaram a perguntar: “Quem é esse que até perdoa pecados?” Mas Jesus disse à mulher: “A sua fé salvou você. Vá em paz.” (SBB,BLH)

Estimados amigos e amigas,

“10 chaves para ser realmente feliz”. Este foi o título do último texto que vi à minha frente, depois de dezenas de outros, na tentativa sem fim de se oferecer dicas sobre esta necessidade básica do ser humano. Será a saúde, a inteligência, o dinheiro, a beleza ou o casamento uma das chaves para ser feliz? Não haverá uma raiz, uma chave que servirá de base para todas as demais dicas que poderiam ser apontadas como caminho da felicidade?

A felicidade está intimamente ligada a um relacionamento harmonioso com Deus e com o próximo. De acordo com os ensinamentos bíblicos, a felicidade está ligada ao perdão e ao amor. Feliz é aquele que é amado e perdoado e que, por isso, ama e perdoa.

O texto do Evangelho retrata um episódio da vida pastoral de Jesus. Um texto que mostra a maneira de duas pessoas se movimentarem no corredor da vida: Um orgulhoso fariseu, que fazia questão de propagar a sua suposta superioridade moral, e uma triste pecadora, consciente dos seus pecados, buscando humilde e sinceramente o perdão.

A primeira lição que aprendemos neste texto é que somos felizes quando nos apegamos ao perdão dado por Cristo.

Simão parece conhecer muito bem aquela mulher, mas não conhecia a si próprio. Ele sabe que ela é uma pecadora, mas não percebe que também ele o era. Vive cego no seu orgulho. Considera-se superior, mais puro. Dá o dízimo, mas despreza a justiça e o amor de Deus. Não enxerga o seu próprio pecado. Pensa ser feliz com a sua maneira de pensar e viver.

A mulher chega a Jesus de forma humilde, com a consciência atribulada, repudiada pela sociedade, sujeita ao apedrejamento. Aquela mulher procura paz para a alma. Ela vê em Jesus alguém que lhe estende a mão como sua última chance de livramento. Ela não se sente feliz.

Simão é privado do perdão porque ele não consegue ver em Cristo o Salvador. Trata-o como celebridade. É incapaz de ver o que se passa no coração da mulher e de Jesus. Ele continua iludindo-se na sua auto-glorificação, no seu egoísmo. Não há alegria no seu coração, porque sem confissão não há perdão para ele.

Jesus perdoa a mulher movido pela compaixão e pelo amor. Ele veio buscar e salvar o perdido, veio apagar os pecados ao pecador arrependido. A mulher apega-se ao perdão em arrependimento e fé. Agora, com a consciência aliviada, sem a culpa dos seus erros a atormentá-la, ela é uma mulher feliz. Porque sente-se, finalmente, amada e perdoada.

Você e eu também somos convidados por Deus a fazer uma avaliação sincera das nossas vidas. Nossa suposta felicidade está fundamentada numa bem constituída conta bancária, casa confortável, inteligência acima da média, status no meio social onde vivemos? Ou é a comunhão com Jesus Cristo, num relacionamento sincero de confissão e arrependimento, de confiança no perdão e numa nova vida, que nos faz sentir realmente felizes? Feliz é aquele que ouve Jesus dizer: “O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6.37).

A segunda lição que aprendemos neste texto é que somos felizes quando a nossa vida transborda de atos de amor motivados pelo perdão recebido de Cristo.

Como sinal de gratidão, a mulher ungiu os pés de Jesus. Seu amor é fruto do arrependimento e da fé em Jesus Cristo. Ungir os pés de uma pessoa era considerada uma atitude vergonhosa para uma judia naquela época. Naquele momento, porém, a mulher não se incomodou com as tradições humanas. Deixou-se guiar pelo amor, pelo perdão de Cristo. Ela estava extremamente feliz.

O texto bíblico indica que a mulher trouxe o perfume num vaso de alabastro. Ora, o alabastro era um gesso branco, finíssimo. Era uma pedra mais fina do que o mármore. Perfumes preciosos eram transportados em vasos como este. Isto significa que aquela mulher trouxe para Jesus do mais caro que podia oferecer. Um sacrifício de louvor pelo perdão recebido. Uma expressão de felicidade.

Simão não manifestou tal amor. Não estava feliz. Por isso não podia demonstrar isto, nem para Jesus nem para a mulher. Para Jesus não deu água, não o beijou, nem o ungiu com óleo. Para a mulher, Simão foi um juiz. Ele, que se dizia guia espiritual do povo e oficiava no templo, juntamente com seus colegas fariseus, não possuía uma só palavra de perdão e consolo para aquela mulher que buscava paz. Só via argueiro no olho do outro. Sem capacidade para perdoar e amar, continuava a ser um homem infeliz.

Jesus, vendo toda aquela cena, através de uma parábola, ensina algo que merece a nossa reflexão: Aqueles que são pouco perdoados, pouco amam. Por outro lado, aqueles que muito são perdoados, muito amam.

Simão, porque não reconheceu os seus pecados, ficou sem perdão. E sem o perdão, perdeu a capacidade de amar. E de ser feliz. Com a mulher acontece o inverso. Ela reconheceu e confessou os seus pecados. Encontrou, em Cristo, o perdão e a paz. E o perdão a capacitou a amar, a ser feliz.

O artigo que citei no início desta mensagem aponta a fé como uma das chaves para ser feliz. E um especialista citado diz que “os estudos têm provado que quem dá apoio aos outros se sente melhor consigo próprio. E até vive mais tempo.” É exatamente o que o evangelho nos ensina: os que são amados e perdoados por Cristo estão capacitados para amar, perdoar e ajudar.

O século XXI tem sido caracterizado, à semelhança dos séculos anteriores, por guerras, desarmonia familiar, divórcios, ódios, egoísmos, e um número incontável de factores que tem roubado a felicidade das pessoas. Muitas chaves têm sido oferecidas para apontar o caminho da felicidade. Mas uma única é a fundamental: Jesus Cristo. A ele podemos nos achegar, como a mulher na casa de Simão. O seu perdão é pura graça, que capacita-nos a amar, a perdoar, a compreender e viver felizes rumo à vida eterna.

Rev. Jonas Roberto Flor
Igreja Evangélica Luterana Portuguesa
Porto, Portugal
jonas.flor@clix.pt


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